O carteiro é alguém que inspira sempre simpatia. Não é normal as pessoas queixarem-se do carteiro como se queixam, por exemplo, dos funcionários das finanças. Pois eu sou a única pessoa que conheço que fez queixa do carteiro. Apresentei, já por três vezes, reclamações junto dos correios.
Há alturas em que recebo muita correspondência registada. Mas o carteiro da minha rua não me toca à porta nem ma entrega; limita-se a deixar o aviso na caixa do correio para que eu depois tenha de perder uma tarde a ir levantá-la à estação de correios. E o que me revollta mais é que, quando se digna a preencher o dito aviso, o que raramente acontece, o «meu» carteiro escreve: «nâo estava/nâo atendeu». Ora engana-se o senhor quando pensa que àquela hora matinal «nunca ninguém está em casa». Eu, efectivamente, trabalho em casa e quando saio nunca o faço antes da uma da tarde.
É evidente que aquele carteiro nem sequer carrega com a correspondência registada, só leva os avisos porque parte do princípio que ninguém lhe vai abrir a porta. Até aposto que preenche logo o dito «não estava/não atendeu» nos avisozinhos todos mesmo antes de sair da estação dos correios.
Eu imagino que os carteiros andem muito carregados, só de pensar em todas as contas de água, de luz, de esgotos, em todos os extractos bancários, em toda a publicidade, em todos os catálogos da La Redoute, com que têm de alancar! Realmente fica pouco espaço no saco para a verdadeira correspondência. Eu sei que não sou o Pablo Neruda mas seria pedir muito, que o carteiro que me levasse as cartinhas registadas ? E, já agora, que tocasse; uma vez só era suficiente.