sábado, julho 12, 2003

Motas de água

É conhecida a aversão de todos os velejadores por tudo o que se desloca a motor sobre as águas. Não existe nada como movermo-nos num plano de água tendo apenas como ruído de fundo o leve roçar do vento nas velas de um barco. Deve ser daí que vem a minha repugnância por aqueles aparelhos que nesta época invadem as nossas praias, rias, lagoas ou barragens, commumente desigados por «motas de água». Como se não bastasse o barulho que individualmente produzem, têm por hábito deslocar-se em enxames ensurdecedores. Também parece não lhes bastar a imensidão do mar ou a dimensão das albufeiras pois têm o péssimo costume de trazer para a borda de água as suas ridículas exibições. E parecem reproduzir-se como os coelhos, pois a despeito da recessão ou da crise, cada vez há mais e com mais falta de respeito. Às vezes, quando me perturbam o sossego da contemplação das ondas, apetece-me abater os condutores com uma carabina de precisão, outras vezes, apetece-me ensiná-los a velejar.