Este Arthur William Costigan havia de trazer outra água no bico quando se meteu a falar assim sem mais aquelas de "um país tão pouco merecedor de ser visto como Portugal"... Adiante: a seu tempo volveremos a este pássaro que entre 1778 e 1779 remeteu ao irmão, para a Grande Bretanha, quarenta e quatro cartas desinteressadas e isentas. Pois em missiva datada de Faro, em 1778, Castigan informa que o principal comércio da região "consiste em figos e amêndoas, alguns vinhos, laranjas, cortiça e sumagre"; e acrescenta que "esse comércio é feito por três ou quatro casas inglesas estabelecidas em Faro, às quais proporciona um lucro exorbitante, devido ao módico preço por que compram esses produtos aos pobres camponeses da terra". Uns dias depois, seguindo a caminho de Castro Marim, não deixará de notar, "dolorosamente, à direita, ao longo do mar, um vasto pântano inteiramente inculto que, com algumas sangrias feitas através dele, poderia ser transformado num dos mais ricos terrenos". Ou seja: o artista, não se dando o caso de por aqui andar de passagem célere a caminho de Lisboa, havia de pousar e transformar a Ria Formosa em terrenos férteis, para depois mais as casas inglesas colherem "o lucro exorbitante" à custa do "módico preço" por que se adquirem os bens ao povo autóctone...
Destas histórias, obviamente, poderíamos nós, duzentos e vinte e cinco anos depois, tirar ao menos exemplo e algum proveito...
(A. W. Costigan - Cartas sobre a Sociedade e os Costumes de Portugal, 1778-1779. Círculo de Leitores, 1992)