segunda-feira, julho 21, 2003

Doce revisited

Consegui. Passei todo um fim de semana sem ouvir falar da concentração de Faro. Não vi uma única motorizada, não cheirei o mais pequeno indício de óleo de competição, não me apercebi do mais pequeno "rater" dos bikers. Cansei-me de nadar, de comer e, confesso, de não ler a mais pequena linha de jornal ou sequer de um livro. Nada, o zero intelectual absoluto ou, se preferirem, o obsceno "zero ground" intelectual. Abandonei o telefone num canto, e só ontem me lembrei dele. Maravilha das maravilhas, apenas uma ou duas chamadas não atendidas no visor me recordavam que havia outro mundo para além do meu. Mas tudo, mesmo que bem bom, acaba.
Hoje, o mesmo telefone despertou-me para "este" mundo. Cinco minutos depois de abrir o primeiro olho, ligo a televisão e de imediato julguei que me tinha enganado no tempo em que regressara à civilização. "A grande novidade para este Verão" - afirmava o locutor - "será uma nova versão das Doce. A não perder, já a seguir...". Eu, telespectador sonolento, despertei de imediato, e procurei relocalizar-me no tempo. As Doce? Quem não se lembra delas? Quem se pode esquecer daquele quarteto que invadiu os sonhos mais ou menos molhados de metade dos adolescentes nacionais, muito antes da invenção do wonderbra, da silicone e das "marés vivas"? Quem se pode esquecer do... enfim.... romance entre a Laura e o benfiquista Reinaldo? Quem pode obnubilar que foi unicamente a partir desse momento que o Benfica se tornou maior que o Sporting no panorama desportivo? Se dúvidas existiam, elas dissiparam-se e o Benfica foi alcandorado a mito, porque um dos seus conseguira meter o tento por que muitos suspiravam e desejavam. O "seu" Reinaldo, jogador de talento duvidoso, tornou-se, para uns, objecto da inveja nacional, enquanto para outros se tornou num aríete dos desejos intimistas de cada um. O país parou e o anedotário nacional enriqueceu. Tempos gloriosos, sem dúvida.
Mas perdoe-me o leitor (imaginando que este existe e se dá ao genuíno trabalho de ler o que escrevo), que me esqueci de relatar o resto do meu acordar matinal. Nos segundos que sucederam a notícia, seguiu-se o saudoso "Bem Bom", com direito a teledisco e tudo... numa versão "remix" muito pop, muito leve, a atirar para o corneto de morango. Nada de Doce, apenas a música, com batida que teria, na minha opinião, de ser mais house para se tornar aceitável. Tudo o resto era apenas desenhos animados. As Doce já não existem, continuam a ser uma miragem dos meus sonhos de adolescente. Os sonhos esta manhã, não foram molhados. Já nada é bem bom.