Peço desculpa aos leitores (continuo com a ideia que eles existem). Acabo de ser informado que as Doce, enfim, apenas três delas, estiveram no último programa do Herman José. Consta que foi uma verdadeira desilusão nacional. Rezam as crónicas que estão obesas, com aspecto entradote e pouco cuidado. Pior, que entre elas houve discussão feia e que Laura Diogo, a namorada do benfiquista Reinaldo, cortou relações com as três restantes. É pena. Assim sendo, nada perdi de importante no fim de semana, muito pelo contrário, na medida em que mantenho intactas as memórias de adolescente.
Há momentos na vida em que o passado deve manter-se intocado. A primeira queca (palavra que o dicionário de correcção ortográfica do meu computador insiste em não aceitar), o primeiro charro, o primeiro espatifanço do automóvel favorito do pai, são alguns desses instantes. As Doce estão nesse limiar de memórias agradáveis que se mistura com uma música inaudível. Estão entre o mau gosto no vestir, apenas perdoável pela volúpia das formas que aquele escondia, e o desejo de uma Wagneriana cavalgada. São o doce e o bizarro aspecto das fantasias de cada um de nós. Na passada semana, aqueles que viram o programa do Herman perderam um pouco dessa fantasia. Pior, foram brutalmente obrigados a crescer um pouco mais e ficaram com a certeza que os sonhos de criança, afinal, à imagem do Pai Natal, não perduram no tempo. Por mais doces que sejam. Imperdoável, Herman.