Vinham estas breves palavras a pretexto da solidariedade com todos os benfiquistas depois da primeira derrota - no primeiro jogo - em jogos oficiais no novo estádio... perdão, no inferno... perdão, na catedral da luz. Enfim, a primeira derrota da era Luís Filipe Vieira, expressivo vencedor das eleições da passada sexta-feira, concorrente em ritmo de passeio no seu carocha encarnado. Diga-se, à laia de curiosidade e em bom abono da verdade, que o autor da façanha foi o poderoso Beira-Mar.
Contudo, tendo-me debruçado um pouco sobre uma reflexão da autoria de António Barreto, publicada no Público de hoje (Domingo, dia 2), na qual este se questionava sobre se faria sentido a existência da Casa Pia, não por causa dos escândalos que a vêm afectando, mas antes pelo seu papel, resolvi analisar a questão sob outra forma. Concretizando, António Barreto afirma que o papel do Estado deve ser o de promover a adopção do maior número possível de crianças, dando-lhes um lar e o aconchego de uma família. Ora, a Casa Pia, ao desenvolver precisamente uma estrutura que preconiza o princípio contrário, representa uma contradição face a tal desiderato, pelo que, em última análise, aproveitando o momento conturbado que vive, o Estado deveria promover o seu desaparecimento. Este, sinteticamente, o pensamento de António Barreto.
Sem querer aqui analisar a complexidade da questão, parece-me, salvo erro, que a reflexão se pode e deve igualmente aplicar ao Benfica. Com efeito, o Benfica cresceu e dotou-se de uma mística num período em que os portugueses andavam descontentes com o regime, eram órfãos de pai e mãe porque o Estado os deixara de proteger e, mais grave, os agredia. O Benfica foi assim adoptando cada vez mais filhos que, rezam as crónicas, chegaram a ser cerca de 6.000.000, órfãos que viviam debaixo da protecção da asa vigilante da grande águia. Ora, nos tempos que correm, os papéis inverteram-se. O Estado passou a proteger a águia, esta perdeu a sua mística e o povo, outrora carente de protecção, passou a saber cuidar de si próprio. Adquiriu maioridade e agora passou ele a cuidar do Benfica. Mesmo os pretensos 4.000.000 de portugueses que não são seus adeptos nem sócios pagam (altos) impostos que ajudam ao seu sustento sob as mais variadas formas. Pergunta-se então, face ao exposto, à semelhança do que é legítimo questionarmo-nos acerca da Casa Pia, fará sentido a existência do Benfica?