terça-feira, novembro 04, 2003
Ainda a memória
É verdade que somos vizinhos. Que é mais fácil tropeçarmos assim nesse fio quase invisível das cumplicidades. Partilhar o fascínio da evocação das sombras inclinadas nos muros de pedra do barrocal, do crepúsculo a desenhar-se nas muralhas antigas, da luz a levantar-se nos pomares de sequeiro. Aí regressar tantas vezes, sem pressas. Aos poetas de Cacela do século XI ou a Sophia. A Omar Khayyam, ao vinho e às rosas dos seus versos. À memória da Feira de Todos-os-Santos. Aos carrinhos e aos aviões da infância, ao comboio fantasma, ao poço da morte. Às tendas de fancaria, às louças de barro, aos colares de bolotas. E a esses lugares: ao Pego do Pulo, à Cerca da Feira, ao rio, à alcáçova, ao grés das cisternas. A tudo isto regressar assim, vagarosamente.