Confesso que esperei com alguma ansiedade o livro de memórias de Gabriel García Márquez. Depois do realismo mágico e do fantástico de livros como O Amor em Tempos de Cólera, Cem Anos de Solidão ou Crónica de uma Morte Anunciada, era com muita curiosidade que esperava o relato dos seus anos de infância e juventude. Descubro, afinal, que Viver para Contá-la não é um livro de memórias. E que Gárcia Márquez, de resto, não se propunha escrever um livro de memórias. Como diz em epígrafe, «la vida nos es la que uno vivió, sino la que uno recuerda y cómo la recuerda para contarla». Pois muito certo: este é mais um livro de ficção. O mais verosímil que consegui topar nestas seiscentas páginas é o seguinte episódio da infância do autor:
«Mi madre me compró además el sobretodo de piel de camello de un senador muerto. Cuando me lo estaba mediendo en casa, mi hermana Ligia - que es vidente de natura - me previno en secreto de que el fantasma del senador se paseaba de noche por su casa con el sobretodo puesto. No le hice caso, pero más me hubiera valido, porque cuando me lo puse en Bogotá me vi en el espejo con la cara del senador muerto.»
Tudo o mais é realismo mágico, pura ficção.