Há dias perguntaram-me se porque escrevo. Aqui ou noutro lugar, mas suspeito que a pergunta tinha mais que ver com o "Um Pouco Mais de Sul" - como se apenas o fizesse aqui - que com outros escritos. Naturalmente, partindo do pressuposto de que há vida para além da blogoesfera, não deixa de ser uma boa pergunta. O interessante é que muito provavelmente não tenho nem nunca terei qualquer resposta para a pergunta. Felizmente que Virgílio Ferreira nos dá uma certa ajuda:
"Escrever. Porque escrevo? Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu. Escrevo porque o erro, a degradação e a injustiça não devem ter razão. Escrevo para tornar possível a realidade, os lugares, tempos que esperam que a minha escrita os desperte do seu modo confuso de serem. E para evocar e fixar o percurso que realizei, as terras, gentes e tudo o que vivi e que só na escrita eu posso reconhecer, por nela recuperarem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, que é a primeira e a última que nos liga ao mundo. Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão."
Vergílio Ferreira, in "Pensar"