sábado, novembro 22, 2003

Daqui ninguém sai vivo

Júlio Carrapato («Crónicas de Escárnio e Boa Disposição», Edições Sotavento) relembra Tomás da Fonseca e a suspeita de que a aparição de Nossa Senhora de Fátima seria imputável, não à celestial e gasosa Virgem Maria, mas sim à terrena mulher do coronel Genipro dos Serviços Cartográficos do Exército Português. Duvida que, com a sua tarimba de 33 anos de Comité Central, Carlos Brito seja o paradigma da virgindade. Lamenta que Fernando Rosas exiba a magra especialidade académica a prefaciar obras sobre os deprimentes amores entre Madame Christine Garnier e Oliveira Salazar, em vez de optar pela divertida sexualidade do Carlinhos de A Marca dos Avelares. Acha que Lula da Silva é o maior prestidigitador do momento. Garante que capitalismo e fascismo são a mesma coisa, em momentos distintos da organização do Estado. Irrita-se com os cagões que ainda não perceberam que todo o sangue azul do mundo não daria para encher um tinteiro. Desanca nos Estados Unidos, mas sem saudades nenhumas da União Soviética (era uma excelente pessoa, paz à sua alma) nem do antigo equilíbrio do terror, considerando que tentar deter um Estado com outro Estado, ou um Império com outro Império, é como apagar um incêndio com gasolina. Recorda os campos petrolíficos de Vasco Rato e os grécios e os kosovários de Bush. Não foge aos adjectivos: o lépido e jovial VPV; o conspícuo EPC, campeão das meias-tintas; as graçolas onomásticas de VGM; a robusta inteligenciazinha de LD, capaz de ofuscar a de Pacheco. É refractário às comemorações oficiais e pouco dado às mundanidades cá da paróquia.

É de escacha-pessegueiro? É. Mas depois de lermos estas crónicas nada nos impede de regressarmos ao Canal Parlamento ou aos noticiários da TVI apresentados por Manuela Moura Guedes.