sexta-feira, novembro 07, 2003

Com as palavras de Sophia, o tempo que agora nos cabe

Vais pela estrada e ouvirás
O som metálico dos guindastes movendo-se
A imitar o antigo canto das
Aves. Depois encontrarás
O entulho arrumado aos taludes
Cortados a pique. Em nenhum lugar escutarás
O silêncio. Em nenhum lugar se
Levantará como um canto o teu amor
Pelas coisas visíveis. Mas olharás
Em redor e compreenderás
Que muitas coisas se vendem. Que
Se vende o mar, o vento e a lua
A prestações suaves. Que estão à venda a
Própria praia outrora extasiada e nua,
Os murmúrios da terra indefinida,
A transparência das paisagens que
Alguém jurou um dia ser de
Madressilva e primavera desenhada.
E trarás então para o almoço,
Entrando no hipermercado,
Com seu sabor de rosa densa e breve,
O peixe congelado.