Entramos num jardim botânico e sabemos que alguém sonhou assim o paraíso. Nao exactamente assim, claro, porque falta sempre uma árvore, um arbusto, uma flor, e depois outra árvore, outro arbusto, outra flor. Quem sonha o paraíso, ou desenha um jardim, sabe que o paraíso, incompatível com os dias que correm, é sempre feito para o futuro. Como este jardim botânico, num sul umpoucomaisasul. Com a Washingtonia robusta a erguer-se a custo contra um céu muito azul. Com as flores de um rosa muito vivo da Chorisia speciosa. Com as raízes expostas da Pandanus utilis. Com as folhas imensas da Artocarpus altilis. Com os relevos escultóricos do tronco da Ficus elastica. Com o universo fabuloso de raízes e troncos da Ficus macrophylla subsp. columnaris, nesse labirinto de trocas entre o que é do ar (a sua luz) e o que é da terra (a sua sombra).
Um dia regressaremos ao interior destes muros e sabemos que o paraíso estará ainda mais próximo, um pouco mais próximo, do sonho que alguém sonhou muitos anos atrás.