segunda-feira, outubro 06, 2003
Os fins de tarde
Estamos no Outono. Os dias são agora mais breves que as noites, as nuvens ocultarão as estrelas com maior frequência, a humidade do ar trará com mais nitidez o rumor dos comboios, as aves passarão vagarosas sobre a península nas suas formações em delta, os fins de tarde deixarão no céu uma estranha mistura de tons, o mar afastar-se-á na vazante com a sensação estranha de que, de súbito, pode deixar-nos para sempre. Talvez seja também chegado o tempo de, uma ou outra noite, vagarosamente, regressarmos a Constantino Paustovski: «Mas o melhor momento do dia era o crepúsculo, quando, por cima das húmidas matas de bétulas, subia uma lua enevoada. Sob o céu vesperal, os ramos dos chorões perfilavam-se como sombras chinesas, aéreas. Nuvens imóveis, nas alturas, de uma cor cinzenta e violácea, difundiam uma leve incandescência. Depois, por cima da imensa terra apaziguada, instalava-se o reino de uma noite cumulada de ar fresco e de cheiro de água.»