quarta-feira, outubro 22, 2003

F1

Não pude resistir a responder ao post do Zé Carlos sobre a Fórmula 1. No meu caso, descobri-a antes do futebol; a paixão pelos automóveis nasceu em memórias de corridas de automóveis disputadas junto à  Fortaleza de Luanda e nas 6 Horas de Nova Lisboa, ambas em Angola, anos antes da independência. O meu pai, trabalhando para o importador da BMW, da NSU, da Autobianchi e da Skoda, tinha acesso a bons lugares no paddock e a azáfama que ali se vivia, contagiou-me de forma indelével. Durante anos, alimentei o sonho de poder vir um dia a disputar provas, ser um deles, sonho esse que foi adiado até ao dia em que decidi prestar provas no autódromo do Estoril. Salvo erro, na altura, as provas eram para o troféu Renault 5 GT Turbo e o vencedor tinha direito a disputar uma época totalmente patrocinada. Um 5º lugar entre 100 candidatos não foi suficiente e por isso demandei, no Verão seguinte, os testes de Fórmula Renault no circuito de Paul Ricard, Sul de França. Uma viagem a sós, partilhada com um Ford Cortina, evitando as caras (para o bolso de um estudante) auto-estradas do Sul de Espanha e França, com dormida em parques na auto-estrada e Parques de Campismo foram a melhor aventura para este vosso escriba durante muito tempo. Apenas chegado, uma desilusão; nessa tentativa fiquei para trás do top ten entre cem candidatos, pelo que o sonho acabou nesse dia. Enfim, restava outra paixão, a que me dediquei e, anos volvidos, me dedico.
Dito isto, não quero entrar na querela acerca de quem terá sido o maior piloto de todos os tempos. Direi que vi grandes estrelas (como Shumacher, Senna, Prost, Lauda, Piquet, Mansell, Stewart), vi pilotos que foram grandes promessas (casos de Villeneuve, Alesi, Berger, Peterson, Pironi, Alboretto, de Angelis) mas que nunca foram campeões e vi campeõµes fracos e sem qualquer carisma (o que julgo serem os casos de Hunt, Schecketer, Rosberg, Jacques Villeneuve, Damon Hill e Hakkinen). No presente, destacaria Button, Raikkonen, Alonso e Button como pilotos do futuro, o finlandês de longe o mais competitivo. Montoya será uma incógnita, mas não me parece suficientemente estável emocionalmente para poder ser um dia campeão. Contudo, Mansell também não o foi durante muito tempo e bastou uma vitóriaria frente a Rosberg em Kyalami, no ano de 1985, para tudo mudar no perfil psicológico do homem e do piloto.
Todavia, perdoe-meo leitor, mas com tudo o que há de subjectivo nestas apreciações, o meu coração penderá sempre para um único homem, que alimentou e alimenta ainda o sonho de milhares de admiradores da F1, anos volvidos após a sua morte. Enzo Ferrari, no livro em que fala das suas má¡quinas e dos seus homens - Ferrari piloti, che gente - leva-nos ao epicentro das sensações. Ali, percebemos que Gilles Villeneuve é o filho que substituiu Dino após o seu desaparecimento prematuro e a morte de Gilles levou igualmente parte da sua existência. Percebi a mí­stica da scuderia muito cedo, e desde sempre torci pela Ferrari, independentemente de quem fossem os seus pilotos. Assim, detestei e adorei Prost, detestei e adorei Mansell, e tenho pena que Senna nunca se tenha predisposto a fazer o que Schumacher fez nos últimos seis anos. Hoje, nove anos volvidos após a morte de Ayrton, noto que me fez falta torcer por Senna; à  scuderia e a mim falta-nos isso no passado. Como falta me fez o campeonato de 82, perdido na luta fraticida entre Pironi e Villeneuve. Ambos, como Alboretto, estão mortos pelo sonho. Villeneuve, último piloto a morrer ao volante de um Ferrari será todavia sempre o maior, porque Enzo Ferrari quis que assim fosse. Assim se cumpra o legado do Comendador.