Olá... Hoje não te contarei uma história, não velarei o teu sono, não me sentarei na beira do colchão, devagarinho para não te acordar, a ouvir a tua respiração compassada, não contemplarei o teu rosto descansado, as mãos fechadas ao lado da cabeça, naquela posição que tens desde os primeiros dias no berço. Hoje, não te aconchegarei o lençol fino que teimas em afastar para os pés da cama, nem enxotarei a gata de cima da colcha, mesmo sabendo que ela regressará inevitavelmente assim que me afastar. Hoje sentirei as saudades que sempre sinto quando estou longe de ti e espero que adormeças a tempo de as não sentir. Hoje, e até lá, contarei as horas para o reencontro que antevejo com a mesma impaciência com que aguardei o teu nascimento. Dorme bem, filha, como sempre fazes quando te conto a história da fada das cores, depois do ritual de despedida das fotografias dos amigos, dos bonequinhos de peluche e do piano cor de laranja.