O país atravessa um momento difícil (excepção feita ao futebol, mas sobre isso se falará no próximo Domingo) porventura apenas comparável ao Verão quente de 75, ou ao momento que antecedeu e sucedeu a queda do Governo do Bloco Central PS/CDS em 1983. A fuga consecutiva de dois primeiros-ministros, porque é disso que se trata por mais compostura que se tente dar a ambos os cenários, cria a sensação de uma vazio de poder no aparelho de Estado e no aparelho dos partidos PSD e PS, tornando-os reféns de partidos mais pequenos e normalmente sem aspiração a governar, como sejam, à esquerda, o BE e à direita o CDS/PP. Pior, tornam-nos reféns de Francisco Louçã/Miguel Portas e de Paulo Portas, o que é por si só muito pior.
Buscar as causas para compreender as consequências requer um prodigioso exercício de imaginação para perceber o que se passou nas cabeças de António Guterres e Durão Barroso. O que todavia poderá explicar muito melhor a situação actual é o progressivo alheamento dos portugueses em relação aos destinos do seu país. A abstenção sucessiva e crescente, o desinteresse pelas causas principais e uma sociedade civil esvaziada de opinião e conteúdo ideológico são em última análise, os principais culpados pelo surgimento de líderes como António Guterres, Durão Barroso, Ferro Rodrigues e, agora, Santana Lopes.
Neste cenário, a pergunta que fará sentido colocarmo-nos é a de se valerá a pena convocar eleições antecipadas e que vantagem ou utilidade terão estas por comparação a eleições que ocorram em seu devido tempo.
Se dissolver a AR era à partida uma opção, o PR podia e devia tê-lo feito de imediato quando Durão Barroso anunciou a sua demissão. E para justificar tal procedimento, bastaria que a Santana Lopes tivesse sido colocada uma simples questão (a mesma que qualquer jornalista já podia e devia ter-lhe colocado à saída de uma qualquer discoteca). Esta tem apenas que ver com o facto de Pedro Santana Lopes ser actualmente presidente da Câmara Municipal de Lisboa, líder do partido do governo - e por inerência candidato a primeiro-ministro - e pré-candidato a Presidente da República. Dois dos compromissos que assumiu não poderão por si ser, pois, cumpridos até ao fim, mas não deveríamos nós já saber quais serão? Não era natural que alguém já lhe tivesse colocado a questão? Volto a perguntar: valerá a penas convocar eleições, ou está, de facto, tudo bem como está e andamos a perder tempo a discutir coisas de somenos importância quando Portugal está a um passo de se sagrar campeão europeu, "helás!", os gregos e os deuses do Olimpo o permitam?