terça-feira, novembro 30, 2004

Cruzamentos

Por vezes, quando menos esperamos, recordações de um passado distante acometem-nos pelo espaço de horas, ou de dias. Pessoas, lugares, acontecimentos... coisas que fazem parte de nós, de um passado que teimamos em preservar, como às ruínas de um templo. Por onde andará Carlitos, o colega de carteira que tive nos primeiros anos e que um dia soube, tinha levado um tiro de um vizinho? Que é feito de Jack, o velejador solitário que, acabado de atravessar o Atlântico no seu veleiro de 7,80 m, partilhou comigo a sua última cerveja de bordo à chegada a Faro e um dia, cansado das avarias do seu sistema de quilha retráctil, fixou-a definitivamente ao casco da sua embarcação. Quando lhe observei que dificilmente conseguiria bolinar assim, disse que isso não era problema, porque tinha decidido transformar-se num gentleman e os gentlemen não navegam contra o vento. Ignoro se regressou à sua Escócia natal, ou se errará pelo mundo. São cruzamentos, não etapas, nem marcos, mas que rasgam e marcam. Saúde Carlitos. Saúde Jack.