terça-feira, novembro 16, 2004

Lembras-te?

Namoravamos por baixo das laranjeiras
enfeitando os cabelos com as flores
enquanto o perfume dos caules arrancados
e a seiva escassa
se nos impregnava na roupa
e na pele

À tardinha, a inocência tolhia-nos os movimentos
e levava-nos de regresso à infância
onde a ausência de pudor
e o simples desejo imberbe
nos salvava do irresistível pecado
da carne

Nesses dias, em que o Sol
se escondia por trás dos galhos
mais baixos e as nuvens não apareciam no céu,
ficavamos a ouvir a nossa respiração compassada
com os murmúrios do riacho
que por ali errava, serpenteando

Aí, distraidamente, enrolava
os teus cabelos nos meus dedos
e conspiravamos que o mundo acabaria
assim para que tudo fosse perfeito
e tu e eu ffizessemos sentido
Como se apenas isso fosse possível.