quinta-feira, novembro 04, 2004

Finados

Lembro-me da cor baça dos teus olhos, da névoa que os cobriu, da distância do teu olhar, da indiferença dos teus últimos dias face à doença que te levou. Lembro-me das brincadeiras que tivemos na minha infância, da tua infinita paciência, das aulas de vida que me deste, tu, que nem sabias ler e muito menos escrever. Lembro-me das histórias de mar, das tragédias humanas que contavas sem agrura, das semente da minha paixão, do incitamente à aventura num elementos que me ensinaste a amar e a respeitar. Lembro-me quando lançaram o teu ataúde à terra e as primeiras pazadas de areia que o cobriram. O menino que fui e preservo apenas dentro de mim jamais esquecerá isso, nem o lais de guia, o nó direito ou a volta de fiel. E as histórias que quero trazer sempre comigo a modos de te fazer perdurar pelo menos no tempo que o destino me permitir cumprir. E já passaram vinte e um anos, avô...