quinta-feira, novembro 11, 2004

Pintura

Nessa altura julgávamos que o amor era um dado adquirido. Por isso deixávamos só o tempo passar. Por isso não reparámos logo que aos poucos íamos ficando menos próximos, menos cúmplices, mais desatentos das coisas do amor. Um dia encontrámo-nos no museu por acaso e estranhámos - nós que andávamos sempre juntos - não ter combinado a visita à exposição do Palolo. Olhávamos os quadros e surpreendeu-nos não coincidirmos nas escolhas. De súbito, pela primeira vez, era como se cada um de nós tivesse que percorrer o seu próprio caminho. De súbito, pela primeira vez, era como se o amor não nos pudesse socorrer. E saímos da exposição com a nítida sensação de que já não havia mais nada que valesse a pena dizer um ao outro.