segunda-feira, setembro 15, 2003

A perda II

"E além do mais" - dizia-me ela, cabisbaixa - "somos de mundos diferentes. Nunca dará certo, percebes isso?". E partiu, deixando a sua mão escorregar pela minha, pousada em cima da mesa com tampo de mármore do café. Para sempre. Hoje apenas guardo a sua imagem, de costas, deslizando entre as mesas, afastando-se. Percebi-a, não que aceitasse o que acabara de me dizer, mas entendi o seu ponto de vista. Hoje, evocar a sua imagem já não é doloroso, mas obriga-me a velar pelas feridas que na altura se abriram. Cicatrizes? Nem sei. Mas também isto, sem querer despoletar nenhum sentimentalismo bacoco ou desbocado, é crescer.