Chegou o Outono. Chegaram, pelos vistos, as depressões do Outono. Eu, que passara o fim de semana nos canais da Ria Formosa, de kayak, não me tinha apercebido da chegada do Outono nem das depressões outonais. Até resolver deixar o fim de noite de segunda feira para ver um filme: In the Mood for Love, de Wong Kar-wai. Confesso: o nome do realizador era-me estranho, o título do filme (Disponível para Amar, na versão portuguesa) era-me desconhecido. Pois seria melhor ficar a ver os Ídolos ou o Big Brother: a beleza terrível do filme irrompeu com violência e deixou-me sem saber se a depressão súbita devia mais ao equinócio ou ao DVD emprestado...
Seja como for, é uma depressão estranha: em rigor, é mais uma espécie de fixação, um almareio, que me pôs hoje, a caminho do almoço, a olhar as mulheres à procura de um vestido semelhante aos de, salvo erro, Maggie Cheung, e que não me deixa ouvir nenhum som que não seja o da música de Shigeru Umebayasi colada à câmara lenta das imagens subtis, e simultaneamente poderosas, de Kar-wai.