domingo, janeiro 25, 2004

A noite

Já lá vem a noite
com seu abandono
com suas sandálias
tão mortas de sono.
A noite imperfeita
nos ramos mais altos
perdida nas áleas
cinzentas do outono

Já lá vem a noite
talhada na cólera
num rumor de pálpebras
que a sombra demora

Podia dizer-te
que nem o teu rosto
afasta a insónia,
nenhuma palavra,
nenhuma memória.
Podia esquecer-te
e acender o lume,
sentar-me à lareira,
fechar as portadas

Mas a noite cresce
com suas sandálias
num rumor de pálpebras
que a sombra demora

E é só o teu nome
o que recordo agora