Podíamos ser contra o estacionamento automóvel em cima dos passeios. Não somos. Estes loteamentos foram concluídos em anos recentes. Em alguns dos lotes não foram ainda retirados os andaimes e as fasquias das obras. E no entanto já não é possível estacionar. Estaciona-se nos passeios. Porque os terrenos junto à praia, agarrados às dunas e à vegetação dunar, são demasiado valiosos para que, num tempo de crise, nos dêmos ao luxo de desperdiçar índices de construção em metros quadrados de estacionamento ou espaços verdes (contrapartidas legalmente previstas e que o acto de licenciamento deveria acautelar).
Entretanto, numa segunda linha, avançam já as máquinas a remover o piorno e a escavar os alicerces de novas moradias em banda e novos blocos de apartamentos. Podíamos ser contra este triste espectáculo de encaminhar os esgotos sem tratamento para as águas do mar. Não somos. Estes loteamentos foram construídos, e estão a ser construídos, antes de se concluírem os sistemas de tratamento de águas residuais. Porque não podemos esperar. Porque não nos podemos dar ao luxo de recusar investimento privado, de desaproveitar projectos estruturantes.
Podíamos ser contra a destruição da Paisagem. Podíamos ser contra o desleixo e a ignomínia. Contra a negligência e a incúria. Não somos. E portanto está certo.