Um dia hei-de temer o abandono,
a sede, a noite, a sombra, o esquecimento.
Mas nessa altura eu quero que o outono
me escreva em tons de sépia o testamento.
Que amor existe apenas no arame,
no lume, no trapézio, em estar presente.
Sem choros nem desculpas, sem reclame.
(Doer-me o ires embora é estar doente.)
Por isso não te peço a eternidade,
contratos, cumprimento de promessas.
Eu quero é que me ames de verdade
e que, não sendo assim, desapareças.
Um dia talvez tema o abandono.
Agora penso nisso e dá-me sono.