Não sei se o leitor se terá disso apercebido, certamente que sim, mas a personalidade das mais variadas pessoas denota-se nos mais pequenos pormenores. Não vem isto a propósito de nada em especial, nem sinto neste instante qualquer necessidade de desabafar sobre a matéria, mas não quero deixar passar despercebido o seguinte: quando foi nomeado Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes discursou ao país. Discursou de forma insegura e pouco profunda, facto que até seria normal no caso de PSL, se a sua ascensão tivesse sido inesperada e não previsível e se de repente o poder lhe tivesse caído nas mãos. Mas não foi. Sabia-se e era esperado, PSL sabia que isso podia acontecer. Ou pelo menos, durante muito tempo admitiu-se que tal seria uma possibilidade real, pelo que nãos e percebe o carácter vago do discurso. Mas nem é o discurso o problema. É a insegurança inicial e a que se lhe vem seguindo, essa sim marcante, que é o cerne da questão. Um governante inseguro é um governante medroso, desconfiado, receoso. É um governante que tem receio da opinião e dos que a emitem, é uma pessoa permanente acossada pelo pavor de ser alvo dos tiros certeiros dos comentadores. O passado mostrou-nos que muitas vezes o caminho seguido pelos líderes receosos foi o da eliminação da opinião e dos opinion makers, quantas vezes criando para tal os estratagemas necessários para justificar tais actos. Digo isto porque, recentemente, dois episódios merecem destaque na actuação de Santana Lopes. O primeiro, a necessidade que sentiu de se rodear do maior corpo de guarda-costas e seguranças de que há memória na história governativa recente de Portugal. O segundo, a avocação de certas pastas ao seu domínio, pastas essas que são de importãncia secundária. Está nesta situação o recente acontecimento das cassetes roubadas com declarações de pessoas ligadas ao processo Casa Pia. Pedro Santana Lopes terá certamente coisas mais importantes com que se preocupar, mas a necessidade de se colocar sob o feixe dos media impôs-lhe um comportamento anómalo nesta matéria. Pode não ser nada e pode ao mesmo tempo ser tudo. Mas sinceramente, duas coisas se podem apresentar neste cenário como possíveis: ou PSL tenderá a governar para os media desinteressando-se das questões verdadeiramente fulcrais para o país, ou tenderá a isolar-se de tudo e de todos por uma questão de insegurança, chamando a si a maior parte das competências por forma a que nada lhe escape ao controlo. Evidentemente, a primeira premissa terá os seus custos e o país pagará a factura. Mas é o segundo aspecto que, francamente, me preocupa. Na verdade, podemos ser conduzidos por um caminho perigoso, antecâmara de algo em que a democracia é uma mera fase de transição. As próximas semanas nos dirão de que fibra é feito PSL, mas oxalá tudo isto seja infundado.