quinta-feira, maio 13, 2004

Uma rosa só

Uma rosa negra substituindo o lugar do teu rosto foi a forma que encontraste de melhor me dizer adeus. Tiveste a infinita complacência de não me dizer abertamente que foi o fim, embora no teu íntimo o sentisses já há muito. Ao espinho que na rosa de imediato não vi cravaste-o bem fundo em mim com aquele lapidar "eu compreendo" com que se encerra qualquer conversa cujo rumo está à partida traçado. Enregelado, vi-te a afastar sob a espessa cascata de água que as nuvens se entretiveram a despejar toda a tarde num prenúncio inevitável do que havia dentro de ti. Sem mesmo olhares para trás, afastaste-te, e no teu lugar, longe, por entre as pesadas nuvens do fim de tarde, fizeste brotar um arco-íris sem que todavia fossem tuas as cores que nele se avistavam, embora uma vã e ridícula esperança me tivesse levado a crer, por um miserável instante, que sim.
Prostrado, sentei-me na terra húmida sem lhe notar o odor de mãe, desejando que se apague depressa o que dentro de ti houver de ser apagado.