É curioso: depois de voltas e mais voltas, depois de tantos ensaios, depois de tanto diagnóstico, o tão aguardado sistema de avaliação de desempenho dos funcionários públicos é afinal exactamente igual ao que vigora em muitas empresas privadas. Ainda bem que o bom senso acabou por impor-se: os privados é outra limpeza, como se sabe e bem recentemente se provou de novo, se necessária fosse a prova, pelo excelente desempenho das empresas externas contratadas pelo Ministério da Educação para tratar do processo de colocação de professores. Pois é assim: como no sistema agora promulgado pelo sr. Presidente da República, na minha empresa sou eu que escolho os directores de projecto sem a chatice e a perda de tempo dos concursos (era o que faltava que tivesse que dar satisfações públicas justificando a nomeação de um afilhado: a empresa é minha, eu é que sou o chefe); também à imagem do sistema promulgado pelo sr. Presidente da República, eu, o chefe, a sós com a minha superior competência e capacidade ímpar de discernimento, é que avalio os assalariados da empresa, definindo objectivos, competências comportamentais (por exemplo, capacidade de adaptação ao mau-humor matinal de moi même) e atitude pessoal (por exemplo, aptidão inata para a aceitação do facto de que durante dois anos não vão ser aumentados); finalmente, e como no sistema agora promulgado pelo sr. Presidente da República, claro que não sou avaliado por ninguém: sou o chefe, eu é que sei, só avalio.
Está a administração pública, portanto, no bom caminho e de parabéns. Agora, quando os Serviços públicos funcionarem mal já se sabe onde mora a responsabilidade e como se trata a doença: é só ir aos arquivos e vasculhar as classificações de desempenho dos funcionários sujeitos a avaliação.