quarta-feira, dezembro 29, 2004

[as nascentes]

Entre as árvores de julho e a sua sombra
entre os nenúfares e a torrente irrepetível do inverno de 1996
entre o céu e o mar nas manhãs onde o crepúsculo ousa regressar
à procura das últimas vozes
entre a cegueira e a obscuridade das páginas dos livros de poemas -
procuro-te como quem adormece com medo das aves

Depois do equinócio e das marcas da água no areal deserto
depois do silêncio demolidor das folhas do salgueiro
quando regressas de longe a uma pátria que não reconheces
depois da aluvião e da estranha abundância das bagas vermelhas
nas veredas iluminadas pela memória dos teus nomes
depois da tristeza dos campos lavrados do outro lado do vale
depois da rendição e da luz abandonada nos pátios
depois do amor -
procuro-te como quem sobe às nascentes com medo da água