quinta-feira, dezembro 30, 2004

Ainda o velho poema islandês

Como ameaçado ontem, eis-nos com mais uma versão do velho poema islandês (ver post anterior). Trata-se, como seria de esperar, duma versão muito diferente, de entre um conjunto quase infinito de versões possíveis. Servimo-nos, em ambos os casos, de traduções inglesas encontradas aqui e aqui. Não desconhecemos a lição de Jorge Luis Borges sobre as kenningar (v. Obras Completas, Vol. I, pp. 381-395, ed. Teorema) - essas excessivas metáforas, ou «menções enigmáticas» que, no fundo, constituem «o primeiro deliberado gozo verbal de uma literatura instintiva». Nesta nova versão algumas kenningar estão mais à vista: uma delas, inclusivamente, aparece textualmente no índice de Borges incluído na História da Eternidade (op. cit.): «lume do mar», como metáfora de ouro. Não resistimos a uma rima final nem a dois falsos decassílabos nos antepenúltimo e último versos.


O ouro
é o fogo no mar,
o rasto da serpente,
a fonte da discórdia
entre os irmãos de sangue.
O aguaceiro
é o choro das nuvens,
a ruína das colheitas,
o flagelo do pastor.
O Gigante
que habita os penhascos,
amante da Deusa ignóbil,
é o tormento das mulheres.
Odhinn,
o mais velho dos pais
e príncipe de Asgard,
é o Senhor de Vallhalla.
Cavalgar
na célere jornada
é a alegria dos cavaleiros,
o esforço da montada.


[versão de J. C. Barros e Alexandre Domingues]