Há uma estrela no céu cujo nome oficial, reconhecido e registado pelas instâncias internacionais próprias, foi escolhido por Desidério Batista e Ricardo Baptista, numa altura em que era importante que uma estrela tivesse esse nome: TIMOR-LESTE. Um trabalho gráfico assinado por ambos, ao vencer um concurso, permitiu que a LINX RA 07h31m 28.885 D 50º 33’ pudesse, alijada da sua designação científica prosaica, ajudar-nos a acreditar que os sonhos não são apenas para sonhar, mas essencialmente para concretizar.
O Desidério expõe agora as suas pinturas mais recentes na Galeria de Artes Feitoria, no Monte Grande, em S. Bartolomeu do Sul (feitoria.ga@sapo.pt). A sua pintura, só por si, justificava a visita. Mas talvez adiante dizer que a exposição, intitulada «O Espírito do Lugar», foi montada num antigo Lagar de Azeite, e que a Feitoria é um lugar onde se cruzam várias artes: a pintura e a gastronomia, os livros e o artesanato, a música e o design.
Quem não conhece S. Bartolomeu, vire à esquerda no cruzamento da Praia Verde, logo a seguir à Altura, em vindo de Tavira na direcção de Vila Real de Santo António. Todos os dias, das 18.30 às 22.30 horas.
sexta-feira, agosto 29, 2003
Ainda esses lugares
Lugares da província onde mais que
os pássaros no estio adormecem devagar as
funcionárias dos correios. E as crianças
trepam inesperadamente às árvores
sempre que o silêncio desce das encostas e
atravessa tudo: os incêndios, os postes dos telefones,
os campos de trigo, os muros das vivendas, as
varas enferrujadas, em sendo o outono, dos
guarda-chuvas poisados à entrada dos cafés.
os pássaros no estio adormecem devagar as
funcionárias dos correios. E as crianças
trepam inesperadamente às árvores
sempre que o silêncio desce das encostas e
atravessa tudo: os incêndios, os postes dos telefones,
os campos de trigo, os muros das vivendas, as
varas enferrujadas, em sendo o outono, dos
guarda-chuvas poisados à entrada dos cafés.
quinta-feira, agosto 28, 2003
segunda-feira, agosto 25, 2003
Judicatura: poder absoluto?
Há bastante tempo que me questiono sobre a origem e fundamento do poder judicial. Nada de transcendente como se verá, mas passo a explicar a minha dúvida. Na base da organização de um Estado co-existem três poderes - Executivo, Legislativo e Judicial - o que acontece desde que Jean-Jacques Rousseau teorizou e doutrinou o assunto. Hoje, tal é mais ou menos pacífico e aceite de um modo global, excepção feita a alguns Estados que ainda existem pelo mundo fora. O poder executivo e o poder legislativo, num Estado de Direito Democrático, são indigitados em resultado de eleições secretas, universais, directas ou representativas. Nestas, o povo escolhe os membros - os primus inter pares - dos órgãos de soberania que hão-de legislar ou exercer as diversas potestas ou poderes públicos do Estado. De forma simplista, no caso português, os deputados das diversas forças políticas que compõem a Assembleia da República são indigitados em eleições representativas, por círculos eleitorais nacionais, sendo a força política mais votada normalmente convidada pelo Presidente da República para formar Governo, podendo optar por governar só - como aconteceu nos governos PS de 1995 a 2001 e PSD de 1985 a 1995 - ou coligada com outra força política como acontece no presente governo PSD/PP. O Presidente da República é eleito por sufrágio directo universal, em uma ou duas voltas. No âmbito das atribuições de cada um dos órgãos de soberania, ao Governo cabe executar as leis e os actos necessários à condução dos destinos do país - poder executivo - e à Assembleia da República legislar - poder legislativo - embora a assembleia possa delegar o poder de legislar no governo, tendo este, contudo, o poder próprio de igualmente elaborar leis e regulamentos. A Assembleia apresenta moções de apoio ou censura ao governo, mercê do seu mérito e o Presidente da República pode dissolver a assembleia da República. Pode igualmente exercer o seu direito de veto relativamente às leis que considere inconstitucionais, forçando a assembleia a revê-las, ou pura e simplesmente submete-as à fiscalização da constitucionalidade perante o Tribunal Constitucional, cujos juízes são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do governo. Como se vê, todo um enredo de poderes e contra poderes que evita a concentração ou o abuso.
E o poder judicial, onde se insere neste contexto? O acesso à judicatura, como carreira, faz-se pela frequência de uma faculdade de Direito, e posterior frequência de um curso com a duração de três anos no Centro de Estudos Judiciários - criação de Laborinho Lúcio, ex-Ministro da Justiça do Governo PSD 1991-1995. Tout court. Não há nomeação, não há sufrágio, não há nada de comparável ao que sucede com os demais poderes do Estado, facto que transforma este num poder especial. Poder forte, que lhe permite investigar e julgar um Presidente da República, ou submetê-lo a escutas telefónicas. Poder de prender um Homem, de o manter longe da sua família e até de extinguir o vínculo de filiação entre uma mãe e o seu filho. É ainda um poder independente, autónomo, e os membros (juízes) dos órgãos (tribunais) de onde emanam as decisões são irresponsáveis pelas consequências destas. E tal está correcto, devendo contudo ser ressalvado o abuso ou a falha grosseira, que não estão acautelados. Não há nomeações políticas, nem de outra ordem, entendendo-se que é juiz quem o quer e consegue ser, abraçando a carreira como se de um sacerdócio se tratasse. O problema está em que, originariamente, entendia-se que o juiz titular do cargo era uma pessoa virtuosa, sem defeitos, ou pelos menos pessoa dotada de bom senso e experiência de vida, enfim, pessoa sabedora e justa, e tanto bastava. E hoje, sabe-se, não é bem assim, tendendo os magistrados para serem pessoas muito novas, e sem grande experiência de vida, sobretudo ao nível do tribunal de comarca ou primeira instância. Tal não seria grave, se porventura mesmo assim se conseguisse perceber em que assenta o fundamento do grande poder conferido a uma pessoa para julgar o seu semelhante pela prática de um acto que muitas vezes essa própria pessoa – virtuosa – pratica reiteradamente no seu dia-a-dia (atente-se, por exemplo, na condução de veículo em excesso de velocidade; que um juiz encartado que nunca tenha praticado esta infracção, me atire a primeira pedra). É este o grande desafio da magistratura nos dias que correm. Não se discute o seu poder mas o seu fundamento e a sua legitimação. É que, se 1789 legitimou os demais poderes judicial e legislativo e acabou com explicação da origem e delegação divina do poder no rei, que permanece por explicar em muitos casos e que noutros se resolveu com a validação do exercício de tal poder pelos parlamentos nacionais de cada um dos estados monárquicos ditos democráticos, o certo é que muitas das monarquias modernas sobrevivem unicamente à custa do carisma do monarca ou do seu presuntivo sucessor (casos de William no Reino Unido e de Juan Carlos e Felipe em Espanha). Noutros casos, as monarquias modernas tornaram-se meramente folclóricas ou meros poderes moderadores dentro dos demais poderes de um Estado. Todavia, o busilis é que se um Estado vive bem sem rei, não sobreviverá, nunca, em última análise, sem juízes, daí resultando a necessidade de fundamentar tal poder e de por essa via, o legitimar.
E o poder judicial, onde se insere neste contexto? O acesso à judicatura, como carreira, faz-se pela frequência de uma faculdade de Direito, e posterior frequência de um curso com a duração de três anos no Centro de Estudos Judiciários - criação de Laborinho Lúcio, ex-Ministro da Justiça do Governo PSD 1991-1995. Tout court. Não há nomeação, não há sufrágio, não há nada de comparável ao que sucede com os demais poderes do Estado, facto que transforma este num poder especial. Poder forte, que lhe permite investigar e julgar um Presidente da República, ou submetê-lo a escutas telefónicas. Poder de prender um Homem, de o manter longe da sua família e até de extinguir o vínculo de filiação entre uma mãe e o seu filho. É ainda um poder independente, autónomo, e os membros (juízes) dos órgãos (tribunais) de onde emanam as decisões são irresponsáveis pelas consequências destas. E tal está correcto, devendo contudo ser ressalvado o abuso ou a falha grosseira, que não estão acautelados. Não há nomeações políticas, nem de outra ordem, entendendo-se que é juiz quem o quer e consegue ser, abraçando a carreira como se de um sacerdócio se tratasse. O problema está em que, originariamente, entendia-se que o juiz titular do cargo era uma pessoa virtuosa, sem defeitos, ou pelos menos pessoa dotada de bom senso e experiência de vida, enfim, pessoa sabedora e justa, e tanto bastava. E hoje, sabe-se, não é bem assim, tendendo os magistrados para serem pessoas muito novas, e sem grande experiência de vida, sobretudo ao nível do tribunal de comarca ou primeira instância. Tal não seria grave, se porventura mesmo assim se conseguisse perceber em que assenta o fundamento do grande poder conferido a uma pessoa para julgar o seu semelhante pela prática de um acto que muitas vezes essa própria pessoa – virtuosa – pratica reiteradamente no seu dia-a-dia (atente-se, por exemplo, na condução de veículo em excesso de velocidade; que um juiz encartado que nunca tenha praticado esta infracção, me atire a primeira pedra). É este o grande desafio da magistratura nos dias que correm. Não se discute o seu poder mas o seu fundamento e a sua legitimação. É que, se 1789 legitimou os demais poderes judicial e legislativo e acabou com explicação da origem e delegação divina do poder no rei, que permanece por explicar em muitos casos e que noutros se resolveu com a validação do exercício de tal poder pelos parlamentos nacionais de cada um dos estados monárquicos ditos democráticos, o certo é que muitas das monarquias modernas sobrevivem unicamente à custa do carisma do monarca ou do seu presuntivo sucessor (casos de William no Reino Unido e de Juan Carlos e Felipe em Espanha). Noutros casos, as monarquias modernas tornaram-se meramente folclóricas ou meros poderes moderadores dentro dos demais poderes de um Estado. Todavia, o busilis é que se um Estado vive bem sem rei, não sobreviverá, nunca, em última análise, sem juízes, daí resultando a necessidade de fundamentar tal poder e de por essa via, o legitimar.
Austríacos 1
Antes de aterrar, li no meu guia que os austríacos respeitam as passadeiras e só atravessam no sinal verde. O guia advertia-me também que, na Áustria, atravessar uma rua fora da passadeira ou com o sinal vermelho era passível de multa de valor não negligenciável. E assim é. É vê-los muito direitinhos, à espera do verde, numa recta onde só passa um carro de 5 em 5 minutos. Ficamos a pensar que o Sul ainda pode ensinar à Europa do Norte os pequenos prazeres de desrespeitar uma regra...
Que pena
Dão-me notícia de que o Algarve social está a dar as últimas. Que já estrebucha. Que as festas VIP já eram. Que os colunáveis desertaram. E eu cheio de pena. É que vou regressar, se Deus quiser, na quarta feira.
Longe do Sul
Saudades, essencialmente, do levante (sendo certo que o levante pode enlouquecer). Saudades desse rumor sobressaltado. Da pressentida ondulação a meio da noite. Do vento a estremecer os ramos e as folhas das amendoeiras jovens.
domingo, agosto 24, 2003
Terras de Barroso
O padre Hermínio vai mostrar-nos o lugar onde Miguel Torga se sentava várias vezes à sombra de um negrilho que já não existe e onde, provavelmente, tirara algumas notas para os posts do Diário datados de Vilar do Porro. A Casa da Eira Longa, recentemente recuperada e transformada numa unidade de turismo rural, foi construída na primeira metade do século dezoito. Regressamos assim a um tempo em que a agricultura e os trabalhos do campo definiam tipologias e vivências: a eira, os pátios interiores, as casas de habitação e de arrumo, os palheiros, os estábulos, os espigueiros, o granito das paredes e dos muros, a madeira de castanho dos travejamentos, dos forros e dos soalhos. E é assim, nestes intervalos do mundo, que sentimos o orgulho de ser um país.
sábado, agosto 23, 2003
As árvores
Dormir nas margens de um rio. O céu muito limpo, recortado pela copa das árvores. Uma mistura de sons a atravessar o talvegue: animais que escolhem a noite para viver. Mas, sobretudo, as árvores. A sua presença discreta e simultaneamente avassaladora. Num raio de não mais que cinquenta metros, erguendo-se num mosaico de prado, silvas, giestas, codeços e roseiras bravas, há amieiros, salgueiros, freixos e carvalhos. Conhecer estas árvores não apenas pelo nome: também pelo desenho da sombra que cada uma delas há-de espalhar em chegando a manhã.
Leis: deixa-me rir
Tínhamos falado disso no dia anterior: da caça furtiva, da destruição militante dos nossos recursos. Mas é preciso ver para acreditar. No meio da serra, dessa rede imensa de estradões que levam a todo o lado e a lado nenhum, os automóveis começam a acender no escuro os seus faróis a partir da meia-noite. Vêem-se alguns deles, outros adivinham-se pelo ruído dos motores quando sobem a meio da encosta. E, pouco tempo depois, começam os tiros. Não um ou outro disparo isolado: dezenas de tiros. Dezenas de tiros deixando no vale o eco da impunidade. Nas margens de um rio, próximos daquilo que chegámos a confundir com o paraíso, o vilipêndio é livre no seu exercício nocturno.
Rio Terva
Os explosivos, o veneno, o esvaziamento das presas, as redes e o cloreto: a tudo este desgraçado rio tem sido sujeito. Faltavam as percas. Introduzidas não se sabe como e por quem, ou talvez vindas do Tâmega, subindo na direcção da nascente, este peixinho exótico, voraz, predador, aparece agora em tudo quanto seja poço ou gralheiro, presa ou raízame. Começou a contagem decrescente do processo final de degradação do ecossistema aquático. Daqui a alguns anos podemos dizer às criancinhas do ciclo: eu sou do tempo em que no rio Terva havia trutas.
sexta-feira, agosto 22, 2003
Dai Nippon 5
Maneiras de ver.
Um discípulo, depois de vários anos ao serviço do grande poeta Basho teve finalmente coragem de lhe apresentar o seu primeiro haiku:
Uma libélula
sem asas:
uma malagueta.
Basho elogiou o trabalho do aluno e fez-lhe apenas um reparo. Tinha sido mesmo necessário arrancar as asas à libélula? E refez o haiku do aluno:
À malagueta
dou-lhe umas asas:
oh, uma libélula.
Um discípulo, depois de vários anos ao serviço do grande poeta Basho teve finalmente coragem de lhe apresentar o seu primeiro haiku:
Uma libélula
sem asas:
uma malagueta.
Basho elogiou o trabalho do aluno e fez-lhe apenas um reparo. Tinha sido mesmo necessário arrancar as asas à libélula? E refez o haiku do aluno:
À malagueta
dou-lhe umas asas:
oh, uma libélula.
Dai Nippon 3
Bairro de Gion, Kyoto, agosto 2003:
ELA - Massage mister? Very good massage, all body yes? You very relax. You very pleasure, only 6000 yen.
Desculpem lá, 6000 ienes? Nove contos por uma pívia? E ainda dizem que a economia japonesa sofre de uma grande deflação.
ELA - Massage mister? Very good massage, all body yes? You very relax. You very pleasure, only 6000 yen.
Desculpem lá, 6000 ienes? Nove contos por uma pívia? E ainda dizem que a economia japonesa sofre de uma grande deflação.
Dai Nippon 2
Não é assim muito de carnes, a japonesa.
Ao fim do dia, é vê-la a correr para o comboio ou o autocarro, o saquinho na mão magrinha, a transportar aquilo que vai preencher todo o espaço interior do seu corpinho franzino: um peixinho-rei... comido cru.
Ao fim do dia, é vê-la a correr para o comboio ou o autocarro, o saquinho na mão magrinha, a transportar aquilo que vai preencher todo o espaço interior do seu corpinho franzino: um peixinho-rei... comido cru.
O Japão e a Culatra - 2 ilhas unidas pelo destino?
Pois é Joaquim, o Japão que descreves é o mesmo que conheço da Culatra. Conta-me mais Joaquim, estou ansioso por saber novidades dessa ilha a Oriente, com tantas semelhanças com a nossa. Eles também têm um presidente de câmara municipal como o de Faro?
quinta-feira, agosto 21, 2003
Dai Nippon 1
Então, o Japão? - perguntam todos com o mesmo ar de quem espera ouvir relatos de encantar. Alguns, apesar de desiludidos com a minha incapacidade de relatar estórias de encantar sobre o Grande Nipão, ainda insistem - vá lá, conta lá... qualquer coisa?
Meus amigos, vamos lá então resolver isto tudo de uma vez. Deixem-me que vos diga:
"O Japão é tal e qual... como hei-de dizer?... o Japão é o Portugal do oriente; e os japoneses... os japoneses, esses, são iguaizinhos a nós são os Lusitanos do extremo oriente.
É a chocante verdade. Pura e dura... pronto, tirando o facto de os japoneses trabalharem seis dias por semana. Ah, e também o facto de obedecerem aos sinais de trânsito (mas isso é uma diferença menor)... de resto são iguaizinhos a nós... ah OK, eles são mais atenciosos nos serviços públicos, e privados também, mas isso, pronto, não é?
Mas juro-vos: são tal e qual... só gostam é de chegar a horas, mas issso não é nada de mais, eu marquei um eoncontro com um indígena às 10 e meia da manhã e às 10 ele já tinha chegado, mas isso são só pequenas coisinhas. Eu acho que conheço um português que uma vez chegou a horas a algum sítio...
Agora a sério: eles muito parecidos connosco: por exemplo preferem andar de transportes públicos, além dos tais seis dias por semana, trabalham até tarde todos os dias, ganham bem, não se queixam do trabalho, sorriem quando estão a trabalhar, as ruas não têm baldes de lixo mas não se vê um único papel no chão, não cospem para o chão, viram a cara quando tossem ou espirram... enfim, a lista de semelhanças não acaba.
E são todas essas pequenas coisas que fazem com que o tuga em Tóquio ou em Quioto, se sinta tal e qual com se estivesse em Lisboa ou no Porto, com melhores transportes públicos, ok, mas pouco mais que isso.
Meus amigos, vamos lá então resolver isto tudo de uma vez. Deixem-me que vos diga:
"O Japão é tal e qual... como hei-de dizer?... o Japão é o Portugal do oriente; e os japoneses... os japoneses, esses, são iguaizinhos a nós são os Lusitanos do extremo oriente.
É a chocante verdade. Pura e dura... pronto, tirando o facto de os japoneses trabalharem seis dias por semana. Ah, e também o facto de obedecerem aos sinais de trânsito (mas isso é uma diferença menor)... de resto são iguaizinhos a nós... ah OK, eles são mais atenciosos nos serviços públicos, e privados também, mas isso, pronto, não é?
Mas juro-vos: são tal e qual... só gostam é de chegar a horas, mas issso não é nada de mais, eu marquei um eoncontro com um indígena às 10 e meia da manhã e às 10 ele já tinha chegado, mas isso são só pequenas coisinhas. Eu acho que conheço um português que uma vez chegou a horas a algum sítio...
Agora a sério: eles muito parecidos connosco: por exemplo preferem andar de transportes públicos, além dos tais seis dias por semana, trabalham até tarde todos os dias, ganham bem, não se queixam do trabalho, sorriem quando estão a trabalhar, as ruas não têm baldes de lixo mas não se vê um único papel no chão, não cospem para o chão, viram a cara quando tossem ou espirram... enfim, a lista de semelhanças não acaba.
E são todas essas pequenas coisas que fazem com que o tuga em Tóquio ou em Quioto, se sinta tal e qual com se estivesse em Lisboa ou no Porto, com melhores transportes públicos, ok, mas pouco mais que isso.
Assim vamos longe
Expliquei à minha filha que um País não pode avaliar-se exclusivamente pelo modo como ordenamos o espaço florestal, pelos índices de desemprego, pela Economia ou pelas contas públicas: um País são também os seus génios e a grandeza que ao mundo se projecta por via dessa genialidade. Lá fomos, pois, ao Estádio Municipal de Chaves a assistir, com bandeirinhas tugas, ao antecipado massacre dos pobres do Cazaquistão às mãos e aos pés de Figo, Cristiano Ronaldo e Cª. Pois parece-me que, findo o jogo, se calhar até já começou a ter em boa conta a srª drª Ferreira Leite...
Chaves
Mestre Nadir Afonso sobe o Tabolado. Com este calor, pensava eu que os génios haviam de levitar ou que, pelo menos, munidos de diáfanas asas, vogassem um pouco acima dos telhados. Mas não. O Mestre, afinal sujeito às leis da gravidade e à inclemência do clima, dá corda aos sapatos como nós, simples mortais, a caminho da rua de Santo António.
quarta-feira, agosto 20, 2003
terça-feira, agosto 19, 2003
Pode ser Vidago?
Hoje, de forma abrupta, disse alto e bom som à senhora do café que me serviu Campilho: «Desculpe, mas eu pedi Pedras Salgadas».
Viver no campo
Num desses passeios todo-o-terreno em que os urbanos procuram o contacto com a «natureza» e tiram muitas fotografias a tudo quanto seja «rústico» ou lhes pareça «rústico», alguém pediu à organização que fizesse o obséquio de mandar retirar das proximidades um tractor carregado de estrume «que cheirava incomodamente». Ontem, em Vilarinho Seco (uma daquelas aldeias de milagre onde parece que recuámos no tempo), um amigo meu lamentava-se de haver ainda gado nas imediações da casa de turismo rural onde comemos e bebemos do melhor que a ruralidade ainda nos permite.
A isto, urbanos convictos, ambicionamos: deixar a cidade ao fim de semana, ou lá de tempos a tempos, e ir jantar ou dormir a uma aldeia «tradicional» onde não houvesse vacas, ou onde, não sendo possível exterminá-las, as vacas atravessassem o largo civilizadamente sem largar uma bosta que fosse no empedrado asséptico.
A isto, urbanos convictos, ambicionamos: deixar a cidade ao fim de semana, ou lá de tempos a tempos, e ir jantar ou dormir a uma aldeia «tradicional» onde não houvesse vacas, ou onde, não sendo possível exterminá-las, as vacas atravessassem o largo civilizadamente sem largar uma bosta que fosse no empedrado asséptico.
E de repente, o Verão...
Acabou! A vida tem destas coisas extraordinárias. É que, volvida a primeira quinzena de Agosto, ocorrem regularmente movimento migratórios da espécie humana, de Sul para Norte. Enfim, a um tempo, sinal inelutável do fim da época balnear e da "saison". Curiosa migração esta, contrária à dos demais espécimes. Consciente de que já é seguro, volvi ao Algarve de todos os dias, sem a cautela do José Carlos, que continua migrado em latitudes mais a Norte, enquanto o João parte para Oriente, por uns dias e o Joaquim voltou há pouco de uma digressão na sequência de uma chamada a Tóquio (literalmente, que o Pipi não mora aqui).
E então, mergulhado novamente no trabalho , apercebo-me que nada mudou na minha curta ausência. O país continuou a arder, a insensata demagogia de Paulo Portas persiste, bem como a sua pertinácia em não tirar férias em Agosto (excepção feita a um aparecimento fugaz na Casa do Castelo para um pé de dança com Cinha Jardim). O Farense acabou, em definitivo (pelo menos por esta época). É curioso, sem dúvida, que tenham sido os detractores de Vitorino, que lhe tenham dado a saída política para lavar as mãos do futuro do clube. É irónico, revela fraca inteligência por parte de uma oposição camarária no concelho de Faro. É que, Vitorino, sabe-se, tem fraca capacidade para o cargo que ocupa e o seu executivo não prima pelo brilhantismo ou sequer pela eficácia. A oposição, pelos vistos, não lhe é superior e poder-lhe-ia ter escorrido que estão a um passo de voltar ao poder. Com este passo perdem uma excelente oportunidade para mostrar à opinião pública e ao próprio PSD porque razão Vitorino não pode ser recandidato nem o PSD deter o poder local em Faro. É que, com opositores assim, qualquer um pode ser presidente da edilidade farense. Revelador...
Volto portanto aos meus papéis, detendo-me apenas a espaços para verificar que surpresas nos reserva a "rentrée", mas desconfio que os temas quentes nacionais ficarão por debater. A Justiça, parente pobre de cada governo, a Reforma Agrária, eternamente adiada pelos sucessivos governos PS e PSD (o PCP não é alheio ao bloqueio da reforma) e a Saúde, que ainda não definiu o modelo de exploração hospitalar, são os problemas mais prementes. A partir de agora, o actual executivo não poderá dizer que a culpa vem de trás se nada fizer para explicar à opinião pública como pretende resolver ou minimizar cada uma das questões enumeradas. À oposição pede-se que seja responsável, que deixe a justiça resolver serenamente o problema Paulo Pedroso (ainda que este caso possa e deva ser usado como exemplo no debate de ideias que urge fazer sobre a limitação ou controle do poder dos magistrados) e que se preocupe com o problema do país e menos com os seus próprios problemas ou sequer em ser governo já na próxima legislatura. De governos sem projectos estará o país farto e é importante que qualquer força política perceba isto antes de se assumir, legitimamente, como candidata ao poder. Esta responsabilidade é devida a cada eleitor e à falta de um poder que a fiscalize, é essencial que cada partido a assuma como sua. Difícil? Sem dúvida, mas essencial para o governo de uma nação que se quer civilizada. Desafio demasiado grande para este final de Verão? Sem dúvida.
Entretanto, da Culatra, a pequena ilha onde ainda é Verão, onde nada ardeu e onde ainda não há saneamento básico à vista, observa-se o futuro.
E então, mergulhado novamente no trabalho , apercebo-me que nada mudou na minha curta ausência. O país continuou a arder, a insensata demagogia de Paulo Portas persiste, bem como a sua pertinácia em não tirar férias em Agosto (excepção feita a um aparecimento fugaz na Casa do Castelo para um pé de dança com Cinha Jardim). O Farense acabou, em definitivo (pelo menos por esta época). É curioso, sem dúvida, que tenham sido os detractores de Vitorino, que lhe tenham dado a saída política para lavar as mãos do futuro do clube. É irónico, revela fraca inteligência por parte de uma oposição camarária no concelho de Faro. É que, Vitorino, sabe-se, tem fraca capacidade para o cargo que ocupa e o seu executivo não prima pelo brilhantismo ou sequer pela eficácia. A oposição, pelos vistos, não lhe é superior e poder-lhe-ia ter escorrido que estão a um passo de voltar ao poder. Com este passo perdem uma excelente oportunidade para mostrar à opinião pública e ao próprio PSD porque razão Vitorino não pode ser recandidato nem o PSD deter o poder local em Faro. É que, com opositores assim, qualquer um pode ser presidente da edilidade farense. Revelador...
Volto portanto aos meus papéis, detendo-me apenas a espaços para verificar que surpresas nos reserva a "rentrée", mas desconfio que os temas quentes nacionais ficarão por debater. A Justiça, parente pobre de cada governo, a Reforma Agrária, eternamente adiada pelos sucessivos governos PS e PSD (o PCP não é alheio ao bloqueio da reforma) e a Saúde, que ainda não definiu o modelo de exploração hospitalar, são os problemas mais prementes. A partir de agora, o actual executivo não poderá dizer que a culpa vem de trás se nada fizer para explicar à opinião pública como pretende resolver ou minimizar cada uma das questões enumeradas. À oposição pede-se que seja responsável, que deixe a justiça resolver serenamente o problema Paulo Pedroso (ainda que este caso possa e deva ser usado como exemplo no debate de ideias que urge fazer sobre a limitação ou controle do poder dos magistrados) e que se preocupe com o problema do país e menos com os seus próprios problemas ou sequer em ser governo já na próxima legislatura. De governos sem projectos estará o país farto e é importante que qualquer força política perceba isto antes de se assumir, legitimamente, como candidata ao poder. Esta responsabilidade é devida a cada eleitor e à falta de um poder que a fiscalize, é essencial que cada partido a assuma como sua. Difícil? Sem dúvida, mas essencial para o governo de uma nação que se quer civilizada. Desafio demasiado grande para este final de Verão? Sem dúvida.
Entretanto, da Culatra, a pequena ilha onde ainda é Verão, onde nada ardeu e onde ainda não há saneamento básico à vista, observa-se o futuro.
domingo, agosto 17, 2003
Assim à distância
O Sul
assim à distância
não é bem o azul do céu
não é bem o azul do mar
mas é Azul
assim à distância
não é bem o azul do céu
não é bem o azul do mar
mas é Azul
sexta-feira, agosto 15, 2003
Agosto
Saí do Algarve naquela altura em que o Algarve começa a ficar entupido pelos que falam mal do Algarve. Três semanas até que o Algarve regresse vagarosamente à ordem natural das coisas: até que se possa estacionar de novo a menos de duzentos metros de casa, até que o lixo deixe de se amontoar em pirâmides irregulares em redor dos contentores, até que não seja preciso disputar ao sprint, no areal, um pequeno espaço para a toalha onde durante o resto do ano nos sobra tanto. Mas não contava com os incêndios a acrescentar um mar de cinzas às desgraças sazonais. Vejo as imagens na televisão e a tristeza sobrepõe-se a tudo, provando-se que os incêndios lavram também em nós e não apenas na serra, nas suas linhas de cumeada, nas suas encostas de pinheiro e eucalipto.
quinta-feira, agosto 14, 2003
Os lugares do Verão (II)
Também os lugares são em grande parte os seus nomes, a memória desses nomes, as coisas, as vidas, os silêncios, os murmúrios, as pausas que esses nomes evocam. Hoje, a caminho da Presa do Zé Ventura (um lugar secreto, mágico, longe do mundo, de que mais nada se dirá), passei por Mindelo, Valdarada, Barranhas, Portela, Corga da Ferreira, Sapateiro, Lajedo, Poço das Piúcas... Um romance, uma história de viagens, podem não estar necessariamente nas páginas de um livro impresso...
Os bosques
Um bosque é também o nome de cada uma das árvores que o compõem, a sua luz e as suas sombras, a cor das folhas dessas árvores mudando ao longo do ano, as aves que poisam em cada um dos seus ramos.
Boticas
Às vezes há pequenos milagres neste interior esquecido: uma biblioteca municipal decente, instalada num edifício recuperado com decência, com jornais e revistas, com sala multimédia, com um conjunto de livros decente, arrumados em salas decentes, com mesas de leitura decentes. Hoje à tarde, no entanto, as salas, à excepção de uma, estão vazias. Não sei se será sempre assim, se será quase sempre assim. Mas hoje só uma delas está ocupada. Melhor: sobrelotada. É a sala dos computadores com acesso à internet. Oito computadores que é preciso esperar para podermos usar.
Quero crer que, uma ou outra vez, alguns destes jovens se levantem, passem diante de uma estante, na sala contígua, e escolham um livro. E que nem sempre estejam assim tão eufóricos sobre o teclado na tentativa de passar ao nível seguinte em jogos com nomes assim: Beach Tennis. Embora, com este calor...
Quero crer que, uma ou outra vez, alguns destes jovens se levantem, passem diante de uma estante, na sala contígua, e escolham um livro. E que nem sempre estejam assim tão eufóricos sobre o teclado na tentativa de passar ao nível seguinte em jogos com nomes assim: Beach Tennis. Embora, com este calor...
Monchique
Os eucaliptos não apenas
ardem rapidamente
deixam nesta linha de
cinza clara
a triste sensação
de que tudo
poderia
ser diferente
ardem rapidamente
deixam nesta linha de
cinza clara
a triste sensação
de que tudo
poderia
ser diferente
terça-feira, agosto 12, 2003
Tambem, com este calor...
Na proxima quinta feira terei de novo acentos e cedilhas. Ate la, boas ferias se for o caso...
segunda-feira, agosto 11, 2003
Isto está o máximo!
Um casal de amigos de Lisboa telefonou-me por volta da 1 da manhã a dizer que estavam num restaurante em Vilamoura a começar a jantar e a convidar-me para ir lá tomar café porque aquilo "estava o máximo". Claro que não só não fui como, no dia seguinte, lhes perguntei se, quando estavam de férias, costumavam jantar tão tarde. Responderam-me que não, mas que ali em Vilamoura tinha que ser assim, que tinham esperado duas horas por uma mesa e uma hora para serem atendidos, e que até tinham tido muita sorte e que estava o máximo!
Pois, imagino que sim, mas é por estas e por outras que enquanto durar o Agosto eu não passo para barlavento da Ilha de Faro...
Pois, imagino que sim, mas é por estas e por outras que enquanto durar o Agosto eu não passo para barlavento da Ilha de Faro...
domingo, agosto 10, 2003
Nao ha acentuacao
Estou num bar@internet e descubro com alguma surpresa a impossibilidade de acentuar palavras e meter cedilhas. Como se escreve um post, de tantos que trazia engatilhados, quando faltam estas ferramentas elementares? O dono do bar surpreende-se com a minha perplexidade, e pergunta: mas precisa mesmo dos acentos e das cedilhas para escrever um texto? Explico-lhe que sim. Que ainda existem pessoas para quem uma palavra mal grafada pode incomodar tanto como a cerveja ser-nos servida muito quente numa altura como esta em que as temperaturas sobem aos quarenta graus. Enfim, talvez os acentos e as cedilhas possam dispensar-se: mas apenas se escrevermos um post onde nenhuma palavra precise de ser acentuada ou cedilhada.
Isto lá vai indo
Chego a casa pelo fim da tarde, depois da praia, e a TVI passa o Amanhecer - uma novela onde, pelos vistos, se discute se o proprietário duriense de boas fam'ilias deve ou não dizer à filha que o não preocupa que tenha escolhido um namorado de classe social inferior. Isto assim de relance, mas textual... Depois chega o intervalo e a estação leva-nos sem pausas para o cenário dos incêndios florestais e para o drama de famílias que perderam todos os bens ou de pessoas que morreram no meio das chamas. A seguir entra um anúncio aos corpos Danone e regressa-se ao Amanhecer e aos casamentos felizes (a novela deve estar naquela recta final em que se prendem os maus e se casam os bons). Daqui a pouco, imagino que os incêndios regressem ao noticiário sem especiais modulações.
E já nem sei dizer o que me incomoda nisto tudo...
E já nem sei dizer o que me incomoda nisto tudo...
só avisam no fim
Não sei se é mesmo verdade que as meninas da ribeira do Sado têm carrapatos atrás das orelhas. Mas, já agora, talvez os DJ de discotecas e bares de praia do Algarve que têm passado a música madrugada adentro, na fase de encerramento das pistas, pudessem fazê-lo logo no início das sessões, repetindo a meio da noite. Moço prevenido e informado vale por dois, e com a saúde não se brinca - mesmo no Verão algarvio.
Serviço da Pública
Adoro estes anúncios. Fico assim a saber que posso adquirir um regador da Christofle por 476 euros ou um relógio Emperador da casa Piaget pela módica quantia de 86.770 euros (pouco mais que dezassete mil e trezentas mocas, ao antigo câmbio).
Deve ser a isto que se referem os analistas de economia ao realçar a necessidade de acabarmos de vez com o discurso da crise e em relançar a confiança e a auto-estima dos tugas. Como contributo, não se me dava regar a buganvília da pérgola do jardim, um bocado murcha aos trinta e cinco graus, com um regador de cem contos...
Deve ser a isto que se referem os analistas de economia ao realçar a necessidade de acabarmos de vez com o discurso da crise e em relançar a confiança e a auto-estima dos tugas. Como contributo, não se me dava regar a buganvília da pérgola do jardim, um bocado murcha aos trinta e cinco graus, com um regador de cem contos...
Ainda os foguetes
Um amigo meu garante-me que ontem andou num comboio foguete. De onde se prova que afinal a proibição dos ditos não é absoluta e que o regime de excepçõees já está a funcionar.
sexta-feira, agosto 08, 2003
quinta-feira, agosto 07, 2003
Já agora
Agora que foi proibido o lançamento de foguetes nas festas e romarias, recomendaria o bom senso a concomitante proibição dos concertos de música pimba que pululam em Agosto e que, por tradição, ocorrem nos intervalos do estralaró.
O outro Algarve
Há dois Algarves: um Algarve de muros de cal ou pedra arrumada, de arribas recortadas, de areais com as marcas da maré e com os restos que o levante traz até à praia, de pequenas sombras pelo fim da tarde a separar o xisto e o calcário, de aves migratórias a atravessar a península no início do Inverno, de uma luz muito azul que vem do Mediterrâneo, de linhas de cumeada sucedendo-se na distância. Do outro Algarve nada se dirá. Senão que o calendário talvez possa defini-los a ambos, e mesmo demarcá-los como essas linhas administrativas que vêm nos mapas e definem territórios com diferentes jurisdições.
Os Lugares do Verão
Saía-se da Zambujeira por uma estrada ladeada de sebes de protecção junto ao mar, podendo parar-se a caminho para ver, do alto da arriba, os Carreiros da Fonte, as Pedras do Inferno ou a Entrada das Barcas. No Cavaleiro deixava-se a estrada que leva ao farol do Cabo Sardão e seguia-se por um caminho de terra batida, passando algumas casas dispersas e terrenos agrícolas de cadastro recortado em fatias, parando-se depois junto aos medos dunares que, para Norte, se alongavam até à proximidade das propriedades defendidas por linhas de vegetação arbustiva. Descia-se, finalmente, à praia. Uma praia recolhida na enseada, uma praia dividida em duas por uma rocha muito escura que resistiu à erosão, uma praia minúscula quando a maré subia até à base da falésia, uma praia quase sempre deserta. Se pudéssemos escolher uma praia, esta seria a minha praia de entre todas as praias do mundo.
quarta-feira, agosto 06, 2003
terça-feira, agosto 05, 2003
Ainda os incêndios (VI)
Em post anterior a este estado de sítio, a esta verdadeira tragédia nacional, tínhamos falado do suspeito do costume: a meteorologia. Infelizmente, pelo que é dado ver e ouvir nos comentários dos telejornais, parece confirmar-se que não há outra razão para os incêndios: está muito calor, há pouca humidade relativa, levantam-se ventos... Pelos vistos, se no próximo Verão tivermos temperaturas primaveris, e não estivais, estaremos livres dos incêndios. E se, no ano a seguir, chover de Junho a Setembro, é provável que voltemos a não ter notícias a dar deste flagelo. Se a coisa não fosse tão triste, tão lamentável, dava vontade de rir. Não é o caso.
Entretanto, as grandes discussões desenvolvem-se (e já que o fogo é inevitável em face de tanto calor...) em redor do tema da coordenação, ou falta dela, nas acções de combate; dos meios existentes ou inexistentes para as acções de combate; dos interesses económicos associados às acções de combate... Não se discutem as questões a montante (ou subvalorizam-se). Não se fala das questões de ordenamento do território, e especificamente das questões de ordenamento florestal. Não se fala de políticas de crescimento económico e de putativo desenvolvimento que levaram, e persistem em levar até às últimas consequências, à desertificação do interior. Não se fala da destruição do bosque mediterrânico e sua substituição por povoamentos extremes de pinheiro bravo e eucalipto. Não se discutem incentivos à floresta de protecção (ou com funções mistas, de produção/protecção), insistindo-se, pelo contrário, na disponibilização de fundos públicos para o apoio a florestações desastrosas do ponto de vista ambiental. Não se discute a estrutura dos povoamentos, não se fazem esforços no sentido da reestruturação fundiária, não se compreende a floresta na perspectiva dos usos públicos e benefícios sociais que proporciona, não se discute a destruição militante da floresta autóctone. Não: discutem-se as questões associadas ao combate dos fogos (que, a partir de uma certa dimensão, como se sabe, é tarefa inglória), não à forma de preveni-los.
A tragédia está ainda em curso. Há, essencialmente, que lamentar a perda de vidas e, secundariamente, a perda de bens económicos e patrimoniais. Mas talvez não fosse mau deixarmo-nos de discutir capelinhas e roupa mal lavada: no próximo Verão há-de haver de novo temperaturas elevadas e, provavelmente, uma humidade relativa do ar compatível com os valores normais da época. A meteorologia, esse papão, aí estará de novo a ameaçar-nos. Entretanto, talvez pudéssemos fazer qualquer coisa a pensar no futuro...
Entretanto, as grandes discussões desenvolvem-se (e já que o fogo é inevitável em face de tanto calor...) em redor do tema da coordenação, ou falta dela, nas acções de combate; dos meios existentes ou inexistentes para as acções de combate; dos interesses económicos associados às acções de combate... Não se discutem as questões a montante (ou subvalorizam-se). Não se fala das questões de ordenamento do território, e especificamente das questões de ordenamento florestal. Não se fala de políticas de crescimento económico e de putativo desenvolvimento que levaram, e persistem em levar até às últimas consequências, à desertificação do interior. Não se fala da destruição do bosque mediterrânico e sua substituição por povoamentos extremes de pinheiro bravo e eucalipto. Não se discutem incentivos à floresta de protecção (ou com funções mistas, de produção/protecção), insistindo-se, pelo contrário, na disponibilização de fundos públicos para o apoio a florestações desastrosas do ponto de vista ambiental. Não se discute a estrutura dos povoamentos, não se fazem esforços no sentido da reestruturação fundiária, não se compreende a floresta na perspectiva dos usos públicos e benefícios sociais que proporciona, não se discute a destruição militante da floresta autóctone. Não: discutem-se as questões associadas ao combate dos fogos (que, a partir de uma certa dimensão, como se sabe, é tarefa inglória), não à forma de preveni-los.
A tragédia está ainda em curso. Há, essencialmente, que lamentar a perda de vidas e, secundariamente, a perda de bens económicos e patrimoniais. Mas talvez não fosse mau deixarmo-nos de discutir capelinhas e roupa mal lavada: no próximo Verão há-de haver de novo temperaturas elevadas e, provavelmente, uma humidade relativa do ar compatível com os valores normais da época. A meteorologia, esse papão, aí estará de novo a ameaçar-nos. Entretanto, talvez pudéssemos fazer qualquer coisa a pensar no futuro...
Ainda os incêndios (V)
«Podemos interrogar-nos se, nos dias que correm, não assistimos em muitas regiões à destruição da paisagem e à sua substituição por um quadro medonho, onde apenas impera a exploração até à exaustão dos recursos e a desolação do deserto.» (cf. Gonçalo Ribeiro Telles & Fernando Pessoa, Paisagens e Espaços Naturais , ed. Clube Internacional do Livro, 1997.)
Ainda os incêndios (IV)
«Os camponeses e os serviços do Estado empregam [o pinheiro bravo] com exagero na rearborização das serras e dos terrenos incultos. Carvalhais, soutos, pinhais mansos da beira-mar, derrotados por milénios de cultura, nunca mais se reconstituíram. Só o pinhal, e ultimamente também o eucaliptal, vão ganhando terreno, subindo nas encostas cobertas de mato, envolvendo o âmbito cultivado das povoações, em grupos pequenos ou em bosques densos, monótonos, intermináveis.» (cf. Orlando Ribeiro, Portugal – o Mediterrâneo e o Atlântico , ed. Sá da Costa, 5ª edição, 1987.)
Ainda os incêndios (III)
«As cidades cresceram no litoral e o interior começou a revelar aldeias abandonadas e novos incultos, em relação aos quais se não pratica a queimada tradicional, mas se enfrenta o incêndio, que se propaga a tudo o que é combustível e se mantém indefeso.» (cf. Eugénio de Castro Caldas, ibidem .)
Ainda os incêndios (II)
«Quando hoje olhamos para a agricultura ou para a floresta de vastas regiões, vêmo-las reduzidas à monocultura, ou a um reduzido conjunto de ecotipos. Apenas porque não eram rentáveis face a uma certa lógica de racionalidade económica. Sublinho uma certa lógica, já que, a meu ver, a economia tem de ver, analisar e decidir para além da lógica de escala, ou do que é imediatamente cifrável em rendimento.» (cf. Carlos Pimenta, idem .)
Ainda os incêndios
«Vai-se continuar a consentir que as nossas paisagens evoluam num sentido em que, a uma monstruosa paisagem urbana e suburbana concentrada no litoral, se contraponham, no interior do País, paisagens florestais e de charnecas periodicamente lambidas pelo fogo? É este o modelo para que estamos a caminhar aceleradamente.» (cf. Ilídio Araújo, 20 Valores do Mundo Rural, ed. Instituto de Estruturas Agrárias e Desenvolvimento Rural, 1995.)
segunda-feira, agosto 04, 2003
Um poema para o outono
as aves migratórias dos lagos de
lemvig e limfjorden
chegam a castro marim e
ficam horas seguidas
na margem do esteiro da lezíria
a olhar as serras de sal muito brancas
com a memória ainda da neve
como se estivessem a
ver o filme ao contrário
lemvig e limfjorden
chegam a castro marim e
ficam horas seguidas
na margem do esteiro da lezíria
a olhar as serras de sal muito brancas
com a memória ainda da neve
como se estivessem a
ver o filme ao contrário
Estava-se mesmo a ver
Não, não foi apenas a luz: também a água faltou durante a tarde de sábado. Não, não foi apenas no sábado: também ontem à noite faltou a água e não foi possível tomar um banho antes de dormir. Não, não estamos ainda de férias (à excepção do Eurico, que por esta hora exacta andará provavelmente em Estremoz, a rondar o Isaías). Como é possível um post nestas condições, no Algarve, no primeiro fim de semana de Agosto? Compreendem?
sexta-feira, agosto 01, 2003
E por fim, Agosto!
Sobe-se pelos próximos dias ao pico da silly season, sem apelo nem agravo. Infantários fechados em Agosto numa região que vive do turismo. Esquecem-se juízes e casapianos, os media vão mesmo a banhos e um milhão de portugueses ruma a Sul. Neste início de mês, as temperaturas subiram de forma insuportável e, apenas para que não restem dúvidas, recordam o Sahara aqui ao lado. Não troco as pilecas do meu carro por um par de dromedários, mas bem me apetecia um oásis perdido neste mar de gente e de calor. Renuncio por ora à Culatra, fujo aos Agostinhos da 125 e ao almirantado dos Sunseekers, Azimuths, Princess, Astondoas e afins que agora começam a descobrir aquelas paragens. Descubro, num mapa, o tal oásis e demando amanhã tais paragens. Espero não ter de parar com os posts para o Um Pouco mais de Sul, mas a tecnologia nada poderá contra a falta de rede de um telemóvel. A civilização, como a conhecemos, ainda não chega, felizmente, a todos os cantos do país.
No meu oásis de eleição, há um dos melhores alfarrabistas do país e uma livraria que consegue ter qualquer livro existente no mundo em dois dias, há uma piscina municipal que agora está vazia de gente e todo um mundo gastronómico. Maria (Alandroal), Fialho (Évora), Grémio (Évora), Bernardino (Serra d'Ossa), Isaías (Estremoz), Barro (Redondo) são alguns dos templos que merecem a visita. Tudo locais que resistem, ainda e sempre, às manifestações de nouvelle cuisine ou simples alarvismo que dominam o panorama algarvio por estes dias. E depois, há as adegas cooperativas e a Herdade do Esporão a dois passos. Tudo bom pano, onde apenas cai a nódoa da poluição do Guadiana, que não deixa aproveitar as potencialidades do Alqueva. À minha espera terei 40º à sombra mas, acredite o leitor, no interior do alfarrabista ou de uma das catedrais referidas não se sente o calor. Compreendo que me diga que nem que lhe pagassem demandaria tais paragens. Eu já fui assim. Passou-me. De resto, hoje não fico, nem que me paguem. Troco o Algarve pelos Foros da Fonte Seca, à espera de dias mais calmos no burgo, que nunca será reino, nem do Algarve, nem da Fuzeta.
Bons terramotos, que é como quem diz, boas férias.
No meu oásis de eleição, há um dos melhores alfarrabistas do país e uma livraria que consegue ter qualquer livro existente no mundo em dois dias, há uma piscina municipal que agora está vazia de gente e todo um mundo gastronómico. Maria (Alandroal), Fialho (Évora), Grémio (Évora), Bernardino (Serra d'Ossa), Isaías (Estremoz), Barro (Redondo) são alguns dos templos que merecem a visita. Tudo locais que resistem, ainda e sempre, às manifestações de nouvelle cuisine ou simples alarvismo que dominam o panorama algarvio por estes dias. E depois, há as adegas cooperativas e a Herdade do Esporão a dois passos. Tudo bom pano, onde apenas cai a nódoa da poluição do Guadiana, que não deixa aproveitar as potencialidades do Alqueva. À minha espera terei 40º à sombra mas, acredite o leitor, no interior do alfarrabista ou de uma das catedrais referidas não se sente o calor. Compreendo que me diga que nem que lhe pagassem demandaria tais paragens. Eu já fui assim. Passou-me. De resto, hoje não fico, nem que me paguem. Troco o Algarve pelos Foros da Fonte Seca, à espera de dias mais calmos no burgo, que nunca será reino, nem do Algarve, nem da Fuzeta.
Bons terramotos, que é como quem diz, boas férias.
Canas e Fátima
Ontem ao fim da tarde, seguindo pela TSF as notícias do veto do sr. Presidente da República à Lei-Quadro, e sintonizando depois a Antena 1, e regressando à TSF, não ouvi um único comentário dos habituais críticos de serviço nestas ocasiões solenes. Há-de ser das férias... Sintonizando a Renascença, no entanto, verifiquei com alívio que a santa missa estava a ser transmitida em directo, e que, portanto, alguém se preocupava com a questão em concreto.
Mas confesso que não me interessava tanto o caso específico de Fátima, e que estava sobretudo interessado em saber o que pensava o país sobre as implicações do veto a Canas de Senhorim...
Mas confesso que não me interessava tanto o caso específico de Fátima, e que estava sobretudo interessado em saber o que pensava o país sobre as implicações do veto a Canas de Senhorim...
Mudar de vida
Naqueles momentos de desalento em que lamentamos não ter tido a coragem de mudar de vida quando as verdadeiras oportunidades nos surgiram, recordo sempre o dia triste em que, apesar da insistência de Sua Magestade, recusei o cargo de Ministro do Ambiente e da Defesa do Reino da Fuzeta, com sede legal em Bias do Sul. Há remorsos que nem o tempo apaga...
Ainda o terramoto
Há indícios fortes de que, depois do Algarve, o movimento subterrâneo das placas possa agora fazer tremer a terra um pouco mais a Norte, com epicentro algures entre Fátima e Canas de Senhorim.
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