terça-feira, agosto 19, 2003

E de repente, o Verão...

Acabou! A vida tem destas coisas extraordinárias. É que, volvida a primeira quinzena de Agosto, ocorrem regularmente movimento migratórios da espécie humana, de Sul para Norte. Enfim, a um tempo, sinal inelutável do fim da época balnear e da "saison". Curiosa migração esta, contrária à dos demais espécimes. Consciente de que já é seguro, volvi ao Algarve de todos os dias, sem a cautela do José Carlos, que continua migrado em latitudes mais a Norte, enquanto o João parte para Oriente, por uns dias e o Joaquim voltou há pouco de uma digressão na sequência de uma chamada a Tóquio (literalmente, que o Pipi não mora aqui).
E então, mergulhado novamente no trabalho , apercebo-me que nada mudou na minha curta ausência. O país continuou a arder, a insensata demagogia de Paulo Portas persiste, bem como a sua pertinácia em não tirar férias em Agosto (excepção feita a um aparecimento fugaz na Casa do Castelo para um pé de dança com Cinha Jardim). O Farense acabou, em definitivo (pelo menos por esta época). É curioso, sem dúvida, que tenham sido os detractores de Vitorino, que lhe tenham dado a saída política para lavar as mãos do futuro do clube. É irónico, revela fraca inteligência por parte de uma oposição camarária no concelho de Faro. É que, Vitorino, sabe-se, tem fraca capacidade para o cargo que ocupa e o seu executivo não prima pelo brilhantismo ou sequer pela eficácia. A oposição, pelos vistos, não lhe é superior e poder-lhe-ia ter escorrido que estão a um passo de voltar ao poder. Com este passo perdem uma excelente oportunidade para mostrar à opinião pública e ao próprio PSD porque razão Vitorino não pode ser recandidato nem o PSD deter o poder local em Faro. É que, com opositores assim, qualquer um pode ser presidente da edilidade farense. Revelador...
Volto portanto aos meus papéis, detendo-me apenas a espaços para verificar que surpresas nos reserva a "rentrée", mas desconfio que os temas quentes nacionais ficarão por debater. A Justiça, parente pobre de cada governo, a Reforma Agrária, eternamente adiada pelos sucessivos governos PS e PSD (o PCP não é alheio ao bloqueio da reforma) e a Saúde, que ainda não definiu o modelo de exploração hospitalar, são os problemas mais prementes. A partir de agora, o actual executivo não poderá dizer que a culpa vem de trás se nada fizer para explicar à opinião pública como pretende resolver ou minimizar cada uma das questões enumeradas. À oposição pede-se que seja responsável, que deixe a justiça resolver serenamente o problema Paulo Pedroso (ainda que este caso possa e deva ser usado como exemplo no debate de ideias que urge fazer sobre a limitação ou controle do poder dos magistrados) e que se preocupe com o problema do país e menos com os seus próprios problemas ou sequer em ser governo já na próxima legislatura. De governos sem projectos estará o país farto e é importante que qualquer força política perceba isto antes de se assumir, legitimamente, como candidata ao poder. Esta responsabilidade é devida a cada eleitor e à falta de um poder que a fiscalize, é essencial que cada partido a assuma como sua. Difícil? Sem dúvida, mas essencial para o governo de uma nação que se quer civilizada. Desafio demasiado grande para este final de Verão? Sem dúvida.
Entretanto, da Culatra, a pequena ilha onde ainda é Verão, onde nada ardeu e onde ainda não há saneamento básico à vista, observa-se o futuro.