quarta-feira, junho 16, 2004

Ressaca

Uma coligação é um assunto sério. Como dizia outro dia Santana Lopes, "há um contrato entre o PSD e o CDS/PP que tem de ser cumprido até ao fim da legislatura. No final da legislatura as partes verão se há interesse em manter o contrato, ou renegociar os seus termos". Confesso que assisti, incrédulo, ao proferir de tais palavras. Santana Lopes admite que o contrato de coligação deve ser analisado à luz da conveniência das partes e não do bem público. É óbvio que é assim, sabêmo-lo, mas admiti-lo é outra coisa e requer grande dose de verniz ou falta de chá. Refeito da surpresa, não pude deixar de dar razão a Marcelo Rebelo de Sousa que, referindo-se às europeias do passado Domingo, usou a expressão "banhada" para qualificar o "status quo" da actual situação política nacional.
E de facto assim é, desde as últimas eleições. Uma coligação que não foi planeada nem assumida antes de eleições, uma coligação de conveniência sem outra estratégia que não a simples manutenção e ambição de poder, não tem qualquer valia, nem qualquer sangue que lhe permita sobreviver a um desgaste provocado pelo deserto de ideias e ideais que supostamente defende.
Em ordem à defesa da imagem de união, PSD e PP coligaram-se nas eleições do passado Domingo, mas faz impressão pensar que os respectivos líderes não se tenham apercebido que não existe qualquer traço de união entre os dois partidos que lhes permita cativar eleitorado de cada um dele. O PP e Paulo Portas fazem mal ao PSD, afastam o seu eleitorado natural, contaminam-no naquilo em que não deveria ser possível contaminá-lo. Os piores ministros deste governo são do PP e, é preciso referi-lo, o próprio Bagão Félix ficou muito aquém do que dele se esperaria. Na recente reforma das leis laborais e da segurança social, conseguiu deixar indispostos os patrões e os empregados. É obra demasiado pesada para apenas dois anos de (disparatada) governação. Dito isto, os resultados de Domingo não são uma surpresa, são até lisonjeiros para a coligação do governo.
Magra consolação, pode ser que a selecção se salve, ainda antes de voltarmos ao trabalho antes do início das férias de Verão.