quarta-feira, junho 02, 2004

Chefias

O cavalheiro pára a viatura, estica a cabeça para fora da janela, olha por instantes e dirige-se finalmente a um dos dois trabalhadores camarários que, com ar relativamente solene, olham uma espécie de buraco aberto no passeio de calçada: «ei, chefe! Podia dar-me uma informação?» Vê-se que o cavalheiro conhece os procedimentos. Primeiro: em Portugal somos quase todos chefes, ou presumimos ser, e portanto, pelo sim pelo não, nada se perde em ir avançando com o título. Segundo: na dúvida, o chefe é o que não faz nada, senão não era chefe. Por isso o cavalheiro se dirigiu ao trabalhador que estava encostado ao muro, de bloco notas na mão e ar displicente, e não ao colega que, apesar de também não esboçar a mínima intenção de se atirar ao que faltava da cova, e apenas a olhasse com ar suspeito, sempre estava munido de picareta.