segunda-feira, junho 28, 2004

Euro ao ar

Bem vistas as coisas, a saída de Durão Barroso acaba por ser uma benção para o país e para o PSD. Adivinhando-se a catástrofe nas próximas legislativas, o PSD nada tem a perder com a mudança de líder. Pedro Santana Lopes não ficará muito prejudicado por não conseguir salvar o PSD de uma derrota eleitoral, se esta vier a suceder, e o próprio PSD poderá sempre argumentar que se não fosse a saída de Durão provavelmente teria um melhor "score" nas legislativas de 2005. Durão só tem a ganhar, portanto, com a sua saída, não ficando impedido de sonhar com um lugar em Belém após a fim da sua comissão de serviço, o qual está agora tão distante à partida quanto o lugar de primeiro-ministro estaria em 1999.
O único senão, e não o menor, que vejo quanto ao cenário traçado é o facto de vivermos em democracia e nesta a opinião pública e os eleitores serem livres de expressar as suas ideias de forma massiva. Pior, o facto de existir um contra-poder centrado na figura do Presidente da República, pode ser um obstáculo ainda maior ao plano Barroso-Santanista. Obviamente, a simples ideia de ver Ferro Rodrigues em São Bento tira-me o sono, mas não posso deixar de concordar que não pode deixar de ser ponderada a destituição da Assembleia da República se se verificar uma alteração tão grande quanto a que se prevê na condução dos destinos da governação. No entanto, apesar do muito que se tem dito, o certo é que nada de anti-constitucional existe na nomeação de outra figura para primeiro-ministro. No nosso sistema, a tradição manda que após eleições o Presidente da República convide o líder do partido mais votado a formar governo. Este poderá fazê-lo ou não, mas mesmo fazendo-o, o PR não está obrigado a aceitar o governo indicado. E pode mesmo convidar o líder do segundo partido mais votado a formar governo. Obviamente, terá de enfrentar as consequências, mas o certo é que constitucionalmente o pode fazer. Neste caso, o número dois do partido é Santana Lopes, pelo que a lógica é que com a saída do número um, sucede-lhe o número dois. O problema, está bem de ver, é que as pessoas e alguns políticos menos esclarecidos, como Manuel Maria Carrilho, ainda acham que votam em pessoas e não em partidos. Filosoficamente, pode-se discutir o sistema eleitoral, mas esse é outro tema que não cabe no cenário que agora se traça quanto à governação de Portugal.
Sinceramente, entre os dois males possíveis que se adivinham, penso que o Presidente não cometerá grande erro se decidir o que fará por arremesso de um Euro ao ar.