Há uns anos, numa aula de filosofia, a perguntava maliciosa que atormentava as mentes dos estudantes era "mas afinal, para que andamos aqui? O que somos e o que procuramos?". Estudantes que éramos, com pouco mais de dezassete anos, esperava-se, legitimamente, tudo da vida. O problema estava em saber exactamente o que era esse "tudo". Houve naturalmente respostas variadas, mas a cada uma das respostas o professor - divertido - renovava laconicamente a mesma pergunta entre duas baforadas num cigarro que teimava em não se consumir num Verão insuportavelmente quente: "e para quê?". Não se vivia decididamente para ter saúde, dinheiro, ou amor, para comer, beber, ou jogar futebol, muito menos para trabalhar, ou para procriar, mas a resposta certa tardava em chegar. Socrático, o professor insistia nos seus porquês, ante o nosso desespero. O intervalo foi longo, atormentado e inquieto na procura da resposta. E ela chegou, quase no final daquela aula que nunca esquecerei. "Para sermos felizes. Tudo o que fazemos, fazêmo-lo para sermos felizes, ou com a convicção de que seremos mais felizes dessa forma." Era esta a resposta à pergunta metafísica mais importante que no início da idade adulta nos era dada. Dezassete anos sem nos perguntarmos qual o nosso papel no mundo, qual o significado de todas as nossas aspirações e desejos, et voil à!, tudo se resumia à felicidade. Ainda hoje, volvidos outros dezassete anos, aquelas palavras estão bem presentes no meu espírito, como estiveram desde então. Em cada decisão, em cada momento, procurei o percurso que, sentia, me traria mais felicidade. Não se tratou nunca de tentar sequer um menor compromisso de sofrimento, mas sempre a procura de uma maior felicidade. Pelo caminho, houve a necessidade de consciencializar que a nossa felicidade colide tantas vezes com a felicidade dos outros. E, pior, perceber que é nesta amálgama de destroços que muitas vezes fica preso um coração pleno de sentimentos contraditórios.
Há dias, num poema de Al Berto, aprendi que ao contrário do que podemos ser levados a pensar, a morte, como solução, é um desvalor porque, eterna, não permite o descanso que pretende quem fica destroçado. Ninguém pode achar-se no direito de morrer enquanto estiver infeliz...