quarta-feira, janeiro 26, 2005

Para sempre

Ontem ligaste-me. A caminho do hospital. Mal te percebi. Um acidente. Ouvi imenso ruído de fundo, uma voz apressada sobrepôs-se à tua. "Não te preocupes" - disseste - "não é nada, até já". Fui ter contigo ao hospital o mais depressa que pude. Quando cheguei, estavas em tratamento, esperei, muito mais do que achei normal. Depois da operação sentei-me a teu lado na sala de cuidados intensivos. O teu coração pulsava como de costume, nas vezes em que encostei o rosto ao teu peito e o senti a bater forte. Sorri e o teu tempo da visita passou demasiado rápido. No fim beijei-te a fronte, estavas quente, talvez um pouco de febre. Nada de preocupante, asseguraram-me. Olhei-te mais uma vez, passei a minhã mão pela tua, os dedos deslizaram num toque mágico. Uma noite passou. Esta manhã cheguei e entrei sem perguntar, nem bater. Já não estavas onde te deixei. Perguntei por ti. Ninguém me soube dizer, fui empurrado para a enfermeira de turno, depois para a enfermeira-chefe, o médico e por fim o médico de piso. Não pude acreditar. Nem gritar. Partiste e nem te despediste, não nos despedimos... Uma infecção. Uma ridícula infecção cuja causa ninguém me sabe ou parece querer explicar. Partes em silêncio, sem que ninguém seja responsável, sem que a ninguém incomode a tua partida e no entanto és a pessoa mais importante do mundo para mim. Olho-te deitada no lençol de cetim. Estás séria, mas mesmo assim bonita como sempre. Faz frio. Daqui a pouco começarão a chegar as pessoas e nunca mais poderei estar só contigo. Beijo-te os lábios uma última vez e aspiro o teu perfume. Ia jurar que ainda é o teu cheiro que me penetra nas narinas; devo estar a ficar louco, mas quem não ficaria? Amo-te tanto... tantas saudades... Até breve, meu amor.