Nenhuma fotografia fará subir a chama
da paisagem acima da janela do terceiro
andar deste prédio. O real é uma abstracção
inútil, uma eternidade a que tivessem
cortado a sua face de sonho, um coração
onde nada pesa que não seja o peso leve
dos sentidos. A vida toda é este mover
das coisas mais próximas, os ombros,
a bússola de viagem, o desenho a tinta da
china de pequenos barcos coloridos,
algumas vozes longínquas que logo fazem
viver as suas formas substantivas: pobre
de quem vê o que seus olhos vêem. Às vezes
é como se tudo tivesse uma alma, um
destino superior às vogais do seu nome,
um espaço onde a eternidade vem para morrer.