terça-feira, abril 13, 2004
Pedra sobre pedra
A nossa sensibilidade para as questões patrimoniais contém-se geralmente no castelo, na igreja, na catedral, no palacete, em tudo quanto encha o olho pela volumetria, a cércea franca ou a poeira de quatro gerações. No Algarve, assim distraídos, destruímos ou deixamos destruir diariamente um património tão ímpar como desprotegido e subvalorizado. Algum é muito recente. Mas nós precisamos primeiro da delapidação para depois nos vir o remorso dela. E assim, deixando agora que as máquinas soterrem ou reduzam a escombros os seus principais elementos, cá andaremos mais tarde de lupa e candeia à procura dos seus restos. Entretanto, não há poço, cisterna, azenha, eira, muro de pedra solta, casa de água única, torneja, reixa, açoteia ou platibanda (isto são só exemplos) que resistam a esta voracidade. Uma voracidade militante onde a ganância e a ignorância caminham a par sem se fazerem sombra.