Passaram quatro anos... já quatro anos!... Ainda ontem me brindaste com uma primeira palavra. O brilho do teu sorriso aqueceu-me o coração. Cada dia foi melhor que o anterior, cada experiência mais gratificantes que todas as outras. Quero ser teu para sempre, mas sei que um dia terei de abdicar de ti. É a vida, a lei da vida; é pena que assim seja, ainda bem que assim é. Por ti cresci um pouco mais, crescerei ainda muito mais; a ti te devo muito do que sou hoje, ensinaste-me o amor no estado puro, desinteressado e altruísta que eu pensava já conhecer e verifiquei que não. Porque nem sequer espero que me ames, ou que me retribuas cada segundo que te dediquei, cada noite que perdi a olhar para ti. Enquanto não entraste na minha vida, achava que tudo era complicado, que o mundo era um lugar difícil para se viver, a despeito do meu optimismo silencioso. E no entanto, a tua fragilidade ensinou-me que nada é assim, nada pode ser complicado se visto através da inocência do teu olhar.
Lembro-me de cada noite em que adormeci contigo nos braços, cada noite de insónia que me deste, de longos passeios pelo corredor lá de casa, altas iam por vezes as horas na noite. Lembro-me de cada passo teu, de cada respiração pesada que tinhas e me inquietava. Sei que um dia sentirei falta destas preocupações e dos amuos que hoje, por vezes, tens, mas que passam em seguida. Tu e eu, hoje, não consguimos ficar zangados um com o outro por tempo a que se possa chamar tempo. Tenho receio que nem sempre possa ser assim e que um dia deixe de ser assim.
Queria tornar perpétuos estes instantes, queria que se prolongassem para sempre, assim, mas temo que tenhamos de continuar a crescer. Ambos temos ainda muito caminho por trilhar, juntos e, depois, também, separados. Hoje não lerás estas linhas, porque não sabes que existem; mesmo que soubesses não lhes saberias dar o devido significado ou já dás, mas de uma forma que é só tua. Espero, como numa garrafa solta à deriva no oceano, que um dia te cheguem estas palavras, numa praia da vida. Espero que passem por promontórios e escolhos e te transmitam amanhã o que hoje me apetece dizer-te e não saberia transformar nas tuas palavras.
Queria transmitir-te mais, muito mais, mas aspiro por que ainda possa soltar mais palavras ao vento e ao mar; anseio ainda ter esse tempo, teu e meu. Espero que ainda tenhamos esse tempo.
Amo-te filha. Parabéns pela tua quarta Primavera.
Teu pai.
PS: Foi bom voltar, ao fim de todos estes meses, a Um Pouco Mais de Sul.