Vê-se que Aníbal Cavaco Silva leu Aristóteles e pescou à linha nas suas teorias sobre o riso, eventualmente por interpostos comentários de Tomás de Aquino. É assim que Cavaco Silva vê alguma virtude no brincar, compreendendo que o riso pode ter um módico de utilidade. Por exemplo, no aliviar de tensões que por um instante estejam a prejudicar o desenvolvimento das actividades sérias. Mas, claro, apenas com esse objectivo e a espaços alargados (digamos: de dois em dois meses), regressando-se de imediato, depois do breve e contido riso, ao rigor do siso. A leitura, no entanto, deverá ter sido parcial: porque Cavaco contrapõe o riso ao carácter produtivo, e isso é que parece que não vinha assim tão claro no Aristóteles... Já de mais difícil filiação é a teoria que relaciona a existência de intervalos nas reuniões de trabalho com o aumento dos graus de desordem.
Para se compreender melhor, vejam-se estes dois excertos da sua Autobiografia Política:
A ideia da desordem: «Na condução dos trabalhos do Conselho [de Ministros] procurei sempre manter o formalismo necessário à afirmação e preservação da dignidade do órgão. (...) Poucas vezes fiz intervalo; os intervalos davam-me a ideia de desordem, cada um a andar para o seu lado, a entrar e a sair da sala, uma imagem de pouca dignidade.»
Rir mantendo a compostura: «Alguns ministros com maior sentido de humor, como Álvaro Laborinho Lúcio, tinham às vezes 'saídas' nas suas intervenções que punham todos a rir. Mas a compostura era sempre mantida e os trabalhos rapidamente readquiriam o seu carácter sério e produtivo.»