sábado, dezembro 06, 2003

A vida é bela

É curioso. O teatro de revista, que chegou a estar mais que morto e enterrado, aí está de novo, pujante, com «momentos muito bonitos» a animar os palcos e as tardes televisivas. Neste espírito, o incontornável Vítor de Sousa lá vem recitar pela enésima oitava vez um poema que é um marco da nossa literatura e da grande aventura poética do século vinte. Foi escrito na década de cinquenta, num tempo em que não havia subsídios à criação, e a gente ainda se emociona ao ouvir em voz alta esta toada decassilábica: «Olha os irmãos da nossa confraria/ muito solenes nas opas vermelhas»... E, de facto, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que se recusa a acreditar que «na nossa igreja, que Deus a proteja/ já passou a procissão». Seja como for, momentos destes (obrigado, TVI!) explicam-nos mais sobre o estado da nação do que um programa de governo, a discussão na especialidade do orçamento ou a leitura diária do jaquinzinhos e do Barnabé.