quinta-feira, dezembro 18, 2003
E, de novo, só a sombra
Já noite, de regresso a casa, começa a chover. O dia esteve cinzento. Desde manhã cedo. Cinzento escuro. Baço. Cinzento. E foi debaixo de chuva que saí do carro, que subi os doze degraus que levam à tijoleira do alpendre. Chove, portanto. Mas, de súbito, a laranjeira do jardim parece iluminada. Como num quadro de Georges de la Tour, a luz sai do interior da própria árvore. Como se cada um dos seus frutos fosse iluminado pela sua própria luz. Fico parado por instantes. À chuva. A olhar esse fogo. Interdito. Até que a sombra regressa de novo. E, de novo, só a sombra, a chuva batida pelo vento.