A Luís Delgado (cf. DN, 6ª feira) não basta que uma lei proíba os condutores de conduzir sob o efeito do álcool. Não basta, sequer, que a venda de bebidas alcoólicas nas auto-estradas seja proibida. É preciso que exista «uma punição acrescida para quem tenha bebidas alcoólicas nas viaturas». Porquê? «Para se evitar a esperteza nacional dos que se abastecem antes de entrar numa auto-estrada»...
Ora Luís Delgado não está a ver bem a coisa. É que, seguindo o raciocínio, é necessário proibir igualmente a venda de bebidas alcoólicas nos restaurantes das estradas nacionais: exactamente para se evitar «a esperteza nacional» dos que saem da auto-estrada nas imediações da Mealhada, pedem uma dose de leitão e dois litros de vinho, e regressam meia hora depois.
E, já agora, é necessária também «uma punição acrescida» para quem tenha bebidas em casa: exactamente para se evitar «a esperteza nacional» dos que bebem em casa antes de se meterem à auto-estrada.
Isto, claro, anda tudo ligado: o sr. primeiro-ministro já anunciou a possibilidade de legislar no sentido de responsabilizar quem adoece. O discurso sobre os toxicodependentes que não seguiram os bons conselhos da família e dos amigos, e que portanto deverão perder direitos no acesso aos cuidados públicos de saúde, inscreve-se no mesmo ímpeto de retrocesso civilizacional que devia deixar-nos preocupados.