quinta-feira, fevereiro 12, 2004

As plantas de interior

Regressou tarde e compreendeu que nada já podia
pertencer-lhe: a abóbada do vale, a linha
sinuosa do talvegue, os campos alagados
de novembro, os amieiros a estender pelo fim da
tarde a sua inúmera sombra nas encostas
da umbria. Por isso mesmo, para que o fio do
horizonte ou um negrilho não pudessem
conceder-lhe, chegando-se ao alpendre ou à
pedra da escaleira, inadvertidamente,
nenhuma das imagens desse tempo, fechou um dia
a cancela do pátio e mandou subir os seus muros.
Que às águas do universo não seja dado
agora moverem-se para além dos pequenos
vasos e dos indecisos caules
das plantas amestradas: as arálias, a flor
de inverno das azáleas, o veneno dissimulado
do loendro, as araucárias de Norfolk sem a
memória do vento ou da estação das chuvas.