E, portanto, insiste-se em meter num mesmo saco a intervenção no Iraque e a luta contra o terrorismo, como se quem tivesse grandes reticências quanto à intervenção no Iraque não pudesse ser a favor da luta sem quartel contra o terrorismo...
Ora a intervenção no Iraque como resposta aos atentados do 11 de Setembro lembra aquela história do sr. João: não conseguindo apanhar os marmanjos esguios que lhe roubam os albricoques, acabou por dar uma merecida lição, um dia que o caçou a jeito, a um marau que na freguesia vizinha se entretinha a partir, disparando com Flaubert, os vidros remanescentes da antiga fábrica do atum. E as histórias parecem-se mais, sobretudo depois de se perceber a mega-mentira (embora mais uma menos uma...) das armas de destruição maciça, e a concomitante descoberta de que o marau não tinha acesso a nenhuma Flaubert, mas apenas a uma fisga de plástico com a qual não era possível partir os vidros do armazém para além dos vãos do primeiro piso.
Há que distinguir, portanto. Ficamos contentes por o ditador de Bagdad ter sido apeado? Claro. Do mesmo modo que ficamos contentes (quanto mais não seja por razões pedagógicas) por o moço que partia os vidros do rés-do-chão com uma fisga de plástico ser chamado a terreiro. Acontece que, sem prejuízo de estar disponível para empreender outras lutas, o sr. João entende agora que deve concentrar-se no problema central, sobretudo depois de a junta de freguesia ter garantido que na próxima semana vai erguer uma vedação junto ao terreno da antiga fábrica: é que a canalha continua a roubar-lhe os albricoques.