sexta-feira, junho 17, 2005

Hemingway na Andaluzia


Ernest Hemingway com Antonio Ordóñez e El Niño de la Palma na
Goyesca de Ronda, em 1959, visto por Idígoras y Pachi
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"Bien, tráigame un jerez". Assim se lia em Fiesta. É conhecida a admiração de Ernest Hemingway por Espanha e as touradas, a pontos que o seu principal romance, Fiesta, passado nas Sanferminas de Pamplona imortaliza as largadas de touros que ainda hoje se fazem naquela localidade. O que menos se conhece, contudo, é que, sendo naturalmente aficionado, o prémio Nobel procurou sempre nas suas visitas ao país vizinho aprofundar cada vez de forma mais requintada o seu culto pessoal pela afición tauromáquica, e fê-lo naturalmente nos lugares onde ela mais se cultivava no seu estado puro. Assim, encontramos Hemingway nas arenas de Jerez, Sevilha, Córdoba e Ronda, sendo que esta última o encantava particularmente por ser a mais antiga e bonita de Espanha, enquanto a cidade lhe agradava pela monumentalidade das suas escarpas e magnitude dos seus monumentos, porquanto está escondida e preservada pelas serranias que a cercam. Hemingway adorava ainda o estilo goyesco das touradas rondinas, desenroladas com grande dramatismo a três actos, por contraposição ao rigor e folclore da escola sevilhana, bastante mais espartana. Hemingway apreciava sem limites a perícia do matador Antonio Ordoñez, grande amigo pessoal de Orson Wells, também um visitante habitual. Acerca do hotel onde costumava alojar-se - o Enfrente Arte de Ronda - o qual ainda existe, Hemingway dizia ser o lugar ideal para uma lua-de-mel de qualquer jovem casal.
Ali perto, em Jerez de la Frontera, Hemingway apreciava de forma especial o licor de Jerez, as bodegas e a visita às fincas criadoras dos magníficos exemplares de alta escola. É possível traçar um roteiro das suas sucessivas visitas aos mais recônditos lugares da Andaluzia com alguma facilidade, as quais se prolongavam por diversas temporadas, durante as quais satisfazia a sua bonomia e buscava inspiração para os seus livros. Desiludido com Espanha, onde prometeu não voltar enquanto não libertassem um seu amigo preso por motivos políticos, 1959 foi o último ano de visita de Hemingway, após o que se refugiou em La Havana, de onde regressou mais tarde aos Estados Unidos, onde se suicidou em casa com um tiro de carabina.
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