quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Despertar



Quem dera a primeira luz da manhã
me houvesse por graça trazido
o brilho do teu olhar ensonado
e os contornos do teu sorriso

Quem dera me houvesses tentado
a voltar para o leito
ficar apenas por mais um instante
e sentir-me perfeito

Quem dera palpar o teu coração

Sentir que o mundo cabe na minha mão
E no meu ouvido soar
o abandono dos segredos do teu peito

Cedo,
Antes dos sons das crianças
e do estremunhar do mundo

À hora em que os pescadores tornam ao cais
cercados pelo voo frenético das gaivotas
a manhã tresandando a peixe fresco, maresia,

restos de plena lua

Quando ainda se pode agarrar a madrugada
estender a noite por um farrapo de tempo
entrelaçarmo-nos como crianças
que de manhã ensaiam a dansa

[Ficar,]
Beber a luz do amanhecer, olhar o rio,
desaguar no teu sorriso sereno
E por fim,
na nua dor do teu prazer

.