quarta-feira, fevereiro 16, 2005
Começo
Não cantes hoje,
sopra um vento -
- febril -
levanta um pó que se cola à memória
onde o esquecimento mergulhou
no teu sangue
levantas voo
percebes finalmente
que o mundo é redondo
para que não possas ver o caminho
a percorrer
nem a dispersão das cinzas
o ardor dos olhos
o mito da felicidade
desejo o silêncio
refugiar-me no teu corpo
vácuo
a cidade esquecer
o dia em que nasci
a areia a deslizar
na ampulheta
adormeço por fim,
a voz embargada
bêbado
no sono fingido
um poema violado
as sílabas
protegem-te para a eternidade
para que Luanda, cidade,
me esqueça
no clamor da noite,
uma manhã
de esplendor
de há muitos anos
na verdade...
anos
dor de demasiados
anos
que não me pertencem
a noite chega
não cantes