quarta-feira, março 16, 2005

Palavras II...

Cautela. A hipotética beleza das palavras está no erro com que nos perplexam, na verdade crua que nos querem fazer acreditar, quantas vezes mascarada sob aparência de seriedade. Cuidado com as palavras aos dezasseis anos, aos trinta, aos quarenta... cuidado com todas as palavras, as tontas e as vãs, as boas, as que nos ferem e desassossegam, as esperançosas e as de malévola paciência. Pânico, palavras de regozijo irónico, brilho sinistro, poéticas, destrutivas, silenciosas, plenas de espuma, brancas, negras, fluentemente fluviais ou marítimas. De rei, de rainha, plebeu, pobretão, améres, de concentração animal... Palavras, fortes, deslocam montanhas, mundos, gargantas, luas e grutas obscuras. Palavras de marfim, espuma, sangrentas, carmim... palavras, de mel, dentro das veias, palavras mágicas, que soem bem em inglês, português ou francês, sem sentido, belas, ritmadas, universais. Eis o propósito vão do poeta, a escolha das palavras que libertem o leitor na escolha dos sentidos do poema.
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